Review do Legend of Zelda: Breath of The Wild

Hynx
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5 min readFeb 21, 2017
Cellus, o embargo desse review é pro dia do lançamento do Switch. Só Dá um tapa no texto aí, mas não publica antes! Valeu!

Dessa vez a Nintendo foi longe demais. Finalizando sua conturbada narrativa de derrota com o Wii U, a empresa finalmente lança o mais aguardado título de sua franquia de maior hype, Legend of Zelda: Breath of the Wild, após anos de atraso e desculpas. O que para muitos seria motivo de festa e alívio, agora se demonstra uma desgraça, pois analisamos o produto final e descobrimos que não existe nada mais errado do que ter se empolgado com esse videojogo.

Para quem não está por dentro, o novo jogo se passa em um mundo aberto, ou pelo menos isso é o que a Nintendo diz. A primeira decepção começa nessa mentira: o mundo na verdade é fechado e possui limites. Andamos até todos os pontos mais distantes do mapa e as possibilidades são finitas e não representam um mundo completo, apenas parte dele. É impossível andar por todo o planeta e dar a volta completa no mundo, mostrando que o novo Zelda já é falho a partir de sua premissa.

Mas, de qualquer forma, você pode andar por esse finito mapa o quanto quiser e ir para diversas direções desde o início do jogo. São 8 direções principais: cima, baixo, esquerda, direita e as respectivas diagonais que interseccionam essas direções. Você pode comandar seu personagem a seguir tais direções livremente usando o analógico. Infelizmente, embora exista certa liberdade mais uma decepção vai bater forte nos corações Nintendistas, ao saber que o jogo ainda te obriga a seguir uma certa cadeia de eventos para prosseguir na história.

Pois é, amigos, que tipo de mundo aberto é esse onde você precisa seguir instruções pré-determinadas por outros humanos? Cada um deveria fazer sua história no novo Zelda como bem entendesse, sem seguir essa cansada e antiga fórmula narrativa completamente linear. Logo na primeira tela já vemos indícios claros de que esse seria o caminho a seguir pelo resto do jogo, ao sermos apresentados com uma ordem “Press Start”. Por quê? E se eu não quiser? É isso que a Nintendo chama de liberdade?

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Essa falta de liberdade se estende após obedecer ao primeiro comando, onde logo mais você se pega jogando com um caucasiano loiro sem ninguém sequer lhe perguntar se era esse o personagem que você queria jogar. Em pleno 2017 ainda somos obrigados a controlar um boneco com raça, cor de pele, cabelo, sexo, peso, idade, e orientação sexual (você percebe pela cara de pau no cu dele que é claramente heterossexual) predefinidas, isso é absurdo! É como se os videogames tivessem se rebaixado ao nível de mídias menores, como se estivéssemos assistindo à um filme ou lendo um livro. Chega a dar nojo!

Mas, voltando ao mundo “aberto” do título, por horas você chega a desejar que ele fosse mais fechado. Não foram poucas as vezes que me peguei andando sem rumo por espaços sem praticamente nada. Eram apenas árvores, flores, grama, pedras, relevo, ruínas de uma civilização que já não existe mais, poças d’água, riachos, placas, arbustos, montanhas, colinas, torres, praias, cavernas, horizonte, areia, barro, tudo muito vazio e sem ação.

Cheguei a ficar mais de um minuto sem encontrar outro ser vivo ao explorar o mundo, e fiz questão de sair nas ruas de minha cidade e medir o tempo que levei para encontrar outra pessoa. Foram nove segundos no mundo real contra minutos de solidão em Breath of the Wild. Por vezes esse jogo me causou pequenas crises de abandono e me peguei solitário em casa sentindo que eu estava apenas jogando um videogame e não fazendo parte de algo importante, algo maior que eu. Toda essa solidão e períodos enormes de tempo em que você não luta, conversa, ou sequer vê outro ser quebrou completamente minha imersão no jogo.

O novo título tem muito a aprender com Skyward Sword, um dos melhores Zeldas de todos os tempos (quiçá o melhor, segundo alguns especialistas), com sua cidade cheia de pessoas e seu mundo cheio de cores e vida. Do que importa um mapa grande sem alma? Ao voar pelos vazios céus de Skyward você sabia que abaixo das nuvens sempre alguém estaria te esperando de braços abertos. Em Breath você olha o vasto mundo e treme ao pensar quantos quilômetros deve percorrer para receber um breve olá ou um caloroso abraço de outro personagem pensante.

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Outro ponto baixo que poderia ser remediado aprendendo do grande mestre Skyward é a quantia de coisas a se fazer no jogo. São muitas aventuras opcionais e lugares diferentes para ir; o jogador acaba ficando perdido e desolado sem nunca se apegar à pontos familiares que ele conhece bem. Deveria ser como no Zelda anterior com apenas umas quatro localidades, que acabamos conhecendo como se fosse nossa casa, fazendo de todo o mundo nosso próprio lar.

Por fim, vale a pena dizer que esse não é um jogo ruim, por trás de todas as decepções e falhas a Nintendo acaba entregando um excelente walking simulator, embora preso por uma história linear, cheia de alegorias cansadas e derivativas, e sem as acaloradas mensagens de esperança e fé que outros jogos sobre solidão (que parece ser o tema principal de Breath of The Wild) passam, como Gone Home por exemplo. Espero que a empresa use esse breve tropeço para se reestabelecer e aprender com esses outros aclamados jogos atuais de maior talento.

Resta a nós responder: esse jogo é mesmo um Zelda? Ao verificarmos a capa do jogo podemos constatar que sim, está escrito ali que esse jogo é mais um título na Lenda de Zelda. Mas o sentimento que fica ao largar o controle e contemplar nossa real experiência é que ele não é tudo isso. Quem sabe um Conto de Zelda? Uma História da Carochinha de Zelda? Ou talvez simplesmente crescemos e agora descobrimos o real significado de uma Lenda: ela é apenas uma história de mentirinha.

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