Palavras

Tassio Denker
I. M. H. O.

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Tenho muitas palavras para compartilhar, mas não sei por onde começar. Afinal, são apenas algumas palavras. “Apenas”?

Palavras não são só “palavras”. As palavras são um pequeno sopro sonoro da nossa alma, que expomos ao mundo, revelando a intimidade da nossa consciência, o segredo dos nossos pensamentos.

As palavras são como flechas, que armamos e disparamos contra alvos (in)determináveis. E como as setas, podem ferir, lacerar e tornar irreversíveis alguns dos mais humanos sentimentos.

Mas as palavras também podem curar, remediar. Podem fazer-nos heróis, ou covardes. Adjetivos, e adjetivos são palavras, palavras que escolhemos ser. Locuções verbais, sujeitos e predicados. Somos objetos da palavra, ora diretos, ora indiretos.

As palavras, quando empilhadas fazem prosa, mas se selecionadas, são poesia. Meros verbetes? Vocábulos a esmo? Não, não as palavras.

As palavras possuem classe, possuem estirpe. O que diferencia a expressão “prostituta” da “puta”, essa meretriz do dicionário culto?

Palavras são marginalizadas, literalmente e com direito à pleonasmo. Vejam o “preto”, primo pobre do “negro” — ou seria o contrário? As palavras carregam, com vida própria, suas próprias significações. Nossas significações, nossos sentidos. Quem disse ao “negro” que “preto” era crime?

E o preciosismo, sem valor – que se diga – dos excessos de alguns literatos, advogados e jornalistas? Maltratam-nas, expondo-as indelicadamente, como servas à sua vontade, castigando-as para satisfazer o ego déspota de seus locatários. Tratam-na como se não precisasse de carinho, como se sua beleza individual ofuscasse a falta de criatividade crônica daqueles que se julgam tão… poetas.

Buscam-na, às vezes, em outras culturas, em outros povos, em outras línguas, e as expõem, nuas e cruas, em meio ao vernáculo, deixando-as perdidas, solitárias em meio à multidão de verbetes.

Palavras cantam a beleza do mundo, declaram guerras. Palavras punem crianças, adornam lápides, enaltecem as mulheres. Palavras escrevem a história, palavras entram para a história. Palavras são a história, pois antes da palavra, sequer havia história. Quantas palavras repetidas… Mas afinal, que palavras são inéditas?

Que palavras dizer, em sã consciência, que o subconsciente, sujeito oculto, às vezes indeterminado, é louco, doido varrido?

Palavras, mais que palavras. Transmitem nossa personalidade, revelam um pouco do nosso caráter. Alguns defendem a palavra a até a morte. Outros, gênios da verborreia, não tem sequer palavra.

É, palavras não são apenas palavras.

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Tassio Denker
I. M. H. O.

As palavras, sem cores. Preto no branco. Words, without colors. Black characters on white screen.