Por que você deveria prestar mais atenção ao PMEST de Ranganathan?
Durante a graduação, vemos diversos assuntos que nem sempre prestamos muita atenção. Principalmente se ele não for o assunto mais utilizado pelo “mercado tradicional”.
Durante as minhas aulas de representação descritiva e temática da informação (catalogação e classificação) eu tive uma forte base em AACR2, CDD e CDU. Em algum momento cruzei com o PMEST de Ranganathan, mas foi apenas uma passagem mais conceitual e histórica.
Após concluir todas as disciplinas de catalogação e classificação, me foi plantada a reflexão se a CDD era de fato um dos melhores códigos de classificação, considerando seus “defeitos sociopolíticos”.
Você já prestou atenção na ênfase que existe para assuntos norte americanos em comparação a outras regiões?
A CDD tem suas críticas e há diversos trabalhos a respeito, mas não é o foco principal desse texto.
Mas sim sobre o PMEST de Ranganathan.
Você se lembra dele?
Você sabe quais seriam suas aplicações atualmente?
No texto de hoje, responderei esses questionamentos.
Bora lá?!
Sumário
Ranganathan
Se você é uma pessoa bibliotecária, muito provavelmente você se lembra do Ranganathan ou das suas 5 leis da Biblioteconomia:
1 — Os livros são para serem usados
2 — A cada leitor o seu livro
3 — Para cada livro o seu leitor
4 — Poupe o tempo do leitor
5 — A biblioteca é um organismo em crescimento
Mas as contribuições dele foram além das 5 leis.
Ranganathan foi um matemático que se interessou pela Biblioteconomia, pois teve dificuldades em encontrar materiais de matemática e física, a cerca de 100 anos atrás (1917–1924).
Ele é uma das principais figuras no mundo da Biblioteconomia atual, devido às suas contribuições em moldar um novo perfil de atuação da pessoa bibliotecária.
“Podemos afirmar, portanto, que Ranganathan foi um dos pioneiros a levantar questões em nossa área e a escrever publicações voltadas para o papel social, gerencial e funcional do bibliotecário, o que constitui hoje os pilares dos currículos dos principais cursos de Biblioteconomia espalhados pelo mundo.
Ele foi o responsável por moldar um novo perfil para o profissional bibliotecário e por dar uma nova dinâmica ao fazer biblioteconômico, aliando sempre a teoria com a prática em seu ambiente de trabalho.” (SANTOS e PINTO, 2012)
Essa citação é sobre esse artigo que explica muito bem sobre a vida de Ranganathan:
VIDA & OBRA DE RANGANATHAN: influências e contribuições para a Biblioteconomia
Uma das suas principais contribuições para a área foi a concepção das “cinco concepções fundamentais”: PMEST
PMEST
Uma das razões da criação do PMEST, foi seu descontentamento com a CDD e sua forma mais “congelada” de se classificar.
Mas afinal o que é PMEST?
O PMEST é um acrônimo das 5 facetas (ou categorias fundamentais) para se classificar informações. Elas significam:
- Personality (Personalidade)
- Matter (Matéria)
- Energy (Energia)
- Space (Espaço)
- Time (Tempo (PMEST)
Cada uma delas responderá as perguntas:
- Quem?
- O que?
- Como?
- Onde?
- Quando?
Personalidade é a faceta mais difícil de se identificar, por isso falarei dela por último.
Matéria
Essa categoria responderá a pergunta “o que?”, representando o “objeto”, “coisa” que estaremos classificando.
Dentro dela ainda temos os conceitos de material e propriedade.
Por exemplo:
Temos uma camiseta de algodão de gola henley.
Algodão é o material e o tipo de “gola henley” é sua propriedade.
Energia
Essa categoria responderá a questão “como?”, representando a ação.
Por exemplo:
A venda de uma camiseta.
A compra de uma camiseta.
O uso de uma camiseta.
Espaço
Essa outra faceta, responderá a pergunta “onde?” da informação.
Por exemplo:
A camiseta está em São Paulo-SP.
A camiseta foi fabricada em Caxias do Sul — RS.
Tempo
Como você já deve ter deduzido, essa responderá “quando?” ocorreu.
Por exemplo:
A camiseta foi produzida em março de 2021.
A camiseta henley foi originada no ano de 1839.
Personalidade
A faceta mais difícil de se identificar. Ela responde a pergunta “quem?” da informação.
Identificar exatamente “quem são”, não é uma tarefa simples.
Ela se diferencia de todas as outras facetas.
Ranganathan até dá a dica de aplicar o método hindu:
“Não é isso, não é isso”
Caso queira saber mais sobre o método hindu e o pensar de Ranganathan, confira esse texto:
Ao comparar com as demais categorias.
Esse ponto estará muito ligado ao contexto onde está inserido, mas particularmente eu classificaria uma camiseta gola henley como uma:
“peça de roupa de parte superior, com uma gola cavada e abertura através de fechos (botões ou zíperes)”
Ela pode ser uma peça feminina, masculina ou sem gênero.
Ela pode ser uma peça para seres humanos, cachorros, gatos ou até brinquedos.
Ela pode ser de manga comprida ou curta ou até mesmo sem manga.
Ela pode ser fechada com os vários tipos de botões ou zíperes, mas não cordões (pois aí se transformaria em uma bata).
Meu olhar de bibliotecário, já pensaria em fazer uma remissiva de termo relacionado, para um: Veja também “bata”.
Essa “peça de roupa” ainda pode estar dentro de um contexto maior, como por exemplo:
ela ser um produto dentro de um e-commerce que vende roupas, livros, eletrônicos, eletrodomésticos etc.
As facetas do PMEST são realmente mais conceituais e gerais do que uma classificação detalhada como a CDD.
Entretanto acredito que é essa base conceitual do PMEST que é mais relevante para nossos dias atuais.
Se você quiser saber mais sobre a teoria da classificação facetada, veja esse artigo:
Se você se ficou se interessou ainda mais sobre Ranganathan, confira esse livro sobre suas contribuições em diferentes perspectivas da biblioteconomia:
AS CONTRIBUIÇÕES DE RANGANATHAN PARA A BIBLIOTECONOMIA REFLEXÕES E DESAFIOS
Aplicações atuais
Em um mundo em constantes transformações e cada vez mais velozes, exigirá um sistema de classificação menos rígido.
Ao longo dos últimos anos, o PMEST vem sendo utilizado como base conceitual para aplicação em diversos outros contextos.
Assim como esse artigo explica sua aplicação em um catálogo da Netflix:
Sua aplicação na modelagem de dados, conforme a dissertação do Márcio Bezerra da Silva:
A TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO FACETADA NA MODELAGEM DE DADOS EM BANCO DE DADOS COMPUTACIONAIS
Ou de forma ainda mais ampla, na organização da informação em ambientes digitais, com a tese do Márcio Bezerra da Silva:
Se você se interessa em organização da informação em ambientes digitais, deveria ler a tese do Márcio.
Considerações finais
Este texto foi apenas uma introdução e um compartilhamento de ideias sobre o tema. Se você se interessou, muitos outros conteúdos podem ser compartilhados e aprofundados sobre ele.
Agora me diga, o que você pensa a respeito do PMEST e dos seus desdobramentos dentro do mundo da tecnologia?
Ainda há muito a se explorar…
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Referências
ARAÚJO, Andrei Roberto; SABBAG, Deise Maria Antonio; SITTA, Nathália Souza do Nascimento; CHELEGATTI, Gustavo Ferreira; AMARAL, Rafael Castro Barbosa. Biblionline. João Pessoa, v. 14, n. 1, p. 91–105, 2018. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/16368. Acesso em: 14 de jan. 2023.
FERREIRA, Ana Carolina; MACULAN, Benildes Coura Moreira dos Santos; NAVES, Madalena Martins Lopes. Ranganathan e a teoria da classificação facetada. Transinformação. Campinas, v.29, n.3, p. 279–295, 2017. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/117048. Acesso em: 14 jan. 2023.
LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira; CORRêA, Elisa Cristina Delfini; EGGERT-STEINDEL, Gisela (org.). AS CONTRIBUIÇÕES DE RANGANATHAN PARA A BIBLIOTECONOMIA: reflexões e desafios. São Paulo: Febab, 2016. 222 p. Disponível em: https://ridi.ibict.br/bitstream/123456789/921/1/As_contribuicoes_de_Ranganathan.pdf. Acesso em: 14 jan. 2023.
SANTOS, Francisco Edvander Pires et al. VIDA & OBRA DE RANGANATHAN: influências e contribuições para a biblioteconomia. Pontodeacesso. Salvador, v.6, n.3 , p. 2–19, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/9931/1/2012_art_vbpinto.pdf. Acesso em: 14 jan. 2023.
SEPÚLVEDA, Fernando Antonio Miranda. A GÊNESE DO PENSAR DE RANGANATHAN: um olhar sobre as culturas que o influenciaram. um Olhar sobre as Culturas que o influenciaram. Disponível em: http://www.conexaorio.com/biti/sepulveda/index.htm#fernando. Acesso em: 14 jan. 2023.
SILVA, Márcio Bezerra da. A TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO FACETADA NA MODELAGEM DE DADOS EM BANCO DE DADOS COMPUTACIONAIS. 2011. 168 f. Dissertação (Mestrado) — Curso de Ciência da Informação, Programa de Pós graduação em Ciência da Informação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2011. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/3906/1/arquivototal.pdf. Acesso em: 14 jan. 2023.
SILVA, Márcio Bezerra da. Estudo teórico-analítico sobre o uso de facetas na organização da informação e na estruturação de ambientes digitais. 2018. 261 f. Tese (Doutorado) — Curso de Ciência da Informação, Programa de Pós graduação em Ciência da Informação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/28130/3/M%c3%81RCIO_BEZERRA_tese_2018.pdf. Acesso em: 14 jan. 2023.
