A ansiedade de voltar para casa

Tati Azevedo
Iandé
Published in
3 min readMay 30, 2020

Por 18 anos morei na mesma cidade no interior de São Paulo. Tremembé é o nome dela, cidade vizinha a Taubaté, uma cidade calma, pequena e com um custo de vida baixíssimos, com o primeiro prédio ainda para ser inaugurado no meio 2020. Eu vivi nessa realidade de não ver muitos prédios, tudo ser muito barato, ser rápido o deslocamento, com uma qualidade de vida excepcional até 2019, quando me vi obrigada a mudar para São Paulo para fazer faculdade e essa realidade me virou de ponta cabeça, tudo o que eu já era acostumada sumiu por completo.

Cidade de Tremembé aos fundo (esquerda) e Consolação, SP (direita)

Fevereiro de 2019 me mudei para São Paulo, prédios me cercam, muita poluição sonora, carros e trânsito para todos os lados e estou sozinha em um lugar que não faço ideia de como funciona. Difícil de acostumar com a nova realidade. É tudo muito longe, é tudo muito caro e é tudo muito grande. Seis meses, 1 semestre de faculdade se passou, consegui me adaptar e comecei a entender como funciona esse lugar. Alguns fins de semana eu voltava para Tremembé, mas por pouco tempo. Minha vida já não pertencia mais a essa cidade.

Primeiro ano de faculdade concluído, totalmente acostumada a São Paulo, passo as férias na minha cidade de origem, mas não suporto ficar lá por muito tempo, não há movimento, não há o que fazer, não há para onde ir. São Paulo me proporciona uma vida diferente, tudo está a um palmo de distância. A poluição que seria o maior dos meus problemas já não me incomoda mais, o trânsito já não me estressa como no começo, há tantas oportunidades nessa cidade que não me vejo mais fora desse lugar, morar sozinha me faz bem, me fez amadurecer e ter responsabilidade. As pessoas me perguntam por que eu não quero voltar para o interior, por que eu não sinto falta de morar com a minha família, por que eu depois que terminar a faculdade não vou voltar para casa. Para essas perguntas eu sempre respondi eu não sinto falta de nada de Tremembé, esse lugar não tem oportunidades, esse lugar está longe do que eu quero para a minha vida.

Por do Sol visto da minha janela em Tremembé, SP.

Terceiro semestre de faculdade, 2020. Segundo ano morando sozinha em SP. Em um mês essa realidade é modificada novamente. Covid-19 chega no Brasil, quarentena se inicia e sou obrigada a voltar a morar em Tremembé, a princípio achando que seriam algumas semanas, porém, 2 meses se passaram e agora eu afirmo com toda a certeza eu sinto muita falta de viver aqui. A paz e a calmaria, o barulho dos pássaros, o céu limpo e o ar sem poluição eliminam o estresse e melhoram a saúde e a condição de vida, há tempos que não me sinto tão bem em casa, mas ainda sim não me vejo aqui para sempre, não me vejo tendo a mesma vida que meus pais adotaram para eles. Agora, depois de quase 3 meses de quarentena conto os dias na ansiedade de voltar a São Paulo, minha casa agora é lá, a vontade de ir embora daqui é enorme, aqui definitivamente não é o meu lugar. Até quando terei que ficar aqui? É o que me pergunto todos os dias com a esperança de obter uma resposta que está longe de se resolver.

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