A arte de Paris

Júlia Shiomi
Iandé
Published in
6 min readMay 2, 2020
Arco do Triunfo.

2019 foi um ano intenso para mim, em todos os aspectos. Comecei a faculdade, abandonei sonhos que não me cabiam mais e encontrei novos, assim como novos amigos ao passo que me separei de pessoas que achei que seguiria junto para sempre. Aprendi a deixar para trás aquilo que já não me fazia bem e aceitei curar cicatrizes que há muito tempo não me atrevia tocar. Em outubro, já me tornara uma pessoa completamente diferente de quem era em janeiro, mas nem imaginava que, no meio deste mês, já teria mudado novamente.

Depois de uma semana de provas e entregas de trabalhos que me exauriu emocionalmente, mal podia esperar para uma viagem que eu e meus pais estávamos preparando desde o começo do ano, partindo do Brasil para Portugal e, depois, França. Nem me lembro de como foi arrumar a mala para ir ao aeroporto, apenas prometi a mim mesma deixar em São Paulo os estresses e levar a vontade de me permitir descansar um pouco. Depois de 5 dias incríveis em Portugal, viajando de carro para cidades pequenas, comendo em restaurantes aconchegantes e aproveitando algumas das vistas mais lindas que já vi na vida, seguimos para Paris.

Ainda no avião, senti o que assumo que todos sentem quando veem uma cidade por cima: a sensação de que me encontrava diante de um amontoado de casinhas de lego e formiguinhas e que, se esticasse o braço o suficiente, poderia quase pegar. Depois de um McDonalds de janta e uma viajem de Uber até nosso Airbnb na qual enfrentamos o trânsito parisiense, que talvez na hora parecesse diferente do de São Paulo, e uma tentativa de conversa com o motorista que não falava inglês, na qual a única comunicação ocorreu quando falamos “Brazil” e ele respondeu “Ah, Neymar!”, chegamos na acomodação de madrugada e caímos exaustos na cama.

Uma ruazinha de Paris.

No dia seguinte, minha paixão por teatro e musicais foi alimentada ainda mais quando chegamos à Opera Garnier.

Teto da Opera Garnier.

A fachada pode ser linda, mas não se compara ao que se esconde no interior. As escadarias compridas nas quais as moças costumavam exibir seus caros vestidos agora roubam a cena. Se estendem até o segundo e o terceiro andar, numa coloração de ouro que ocupa todos os cômodos do teatro, o que faz parecer que saímos de Paris e entramos em uma caixinha de música feita e moldada de ouro pelo mais delicado e detalhista artista. Ao entrar nos camarotes, não há como não se sentir em um romance de época ou, no caso, no conto do Fantasma da Ópera. O substituto do lustre que inspirou a história pende do teto abaixo de uma pintura que representa as estações como se fosse o próprio Sol, iluminando o teatro mais lindo que já vi.

Sala para eventos na Opera Garnier.

Saindo dos camarotes, segui para o museu, que se encontra dentro do prédio, na qual estava expostos figurinos que foram usados em diversas peças que ficaram em cartazes ao decorrer dos anos. Mais uma vez, a atenção aos detalhes, até mesmo os mínimos, é impressionante para roupas que seriam vistas de longe, da plateia. Fui então explorar os restos dos cômodos que, antigamente, eram onde os espectadores socializavam nos intervalos das apresentações. As janelas se esticavam até o teto e o teto se esticava ao céu em uma tentativa de se tornar tão glorioso quanto, e, na minha opinião, conseguindo.

Pátio do Louvre.

Já para o Louvre, reservamos o dia inteiro para explorar o museu. Acordamos cedo e nos aventuramos mais uma vez no metro, no qual, para sair, parece que andávamos mais do que o vagão em si. Mesmo chegando lá antes de abrir, encontramos uma fila comprida mas que andou bem mais rápido que imaginava. Peguei tudo que consegui para aproveitar o máximo a visita: mapas, guias, descrições escritas e, como se não bastasse, o guia auditivo.

Comecei pela minha parte preferida antes mesmo de visitá-la: as obras gregas e romanas. Inspiradas principalmente pela mitologia, a qual sou apaixonada, representavam deuses e deusas que há muito tempo lia. Perdi a noção do tempo ao passo que me deliciava com as estátuas que contavam histórias, desde Afrodite e seu filho, Cúpido, os casos amorosos de Zeus e a fúria de sua esposa Hera, até as aventuras de Ulisses.

Uma das várias estátuas da exposição de mitologia. Esta representa Afrodite com as asas de seu filho, o Cupido.

Me impressiona como são mais do que apenas estátuas e ultrapassam muito mais do que o objetivo de decorar ou satisfazer padrões de beleza: são visões do que muitos consideravam a única verdade há milhares de anos.
Só percebi que havia ficado horas apenas naquela seção quando encontrei meus pais quase adormecidos em um banco decidindo onde iriamos almoçar. Então os deixei lá e continuei a explorar com meus guias no bolso.

Outra estátua representando, desta vez, o Cupido.

Depois de um dia inteiro me perdendo nas diversas escadas e salas do museu e comendo lanches rápidos para não perder nada, consegui ver apenas metade do museu. Lá, se perde a noção do tempo. Não apenas de quanto tempo você está lá, mas também da linha do tempo das obras. Ao sair da sala repleta de estátuas gregas, você acaba se deparando com obras renascentistas e depois, se virar a direita, resquícios da civilização antiga do Egito, e, se virar a direita, arte mesopotâmica. É tanta informação que sai de lá prometendo a mim mesma que voltaria pelo menos uma vez e acabaria de ver tudo que o museu, que por si já é uma obra de arte, oferece.

Outra visita que nunca esquecerei é a que fizemos ao castelo de Versalles. A grandiosidade e ostentação de seu rei se tornavam ainda mais explicitas em sua construção e seu interior.

Sala dos espelhos do Castelo de Versailles.

Cada cômodo contava uma história, por meio de sua mobília que foi feita especialmente para impressionar, nos quadros e esculturas que descreviam guerras e conflitos e até o teto, pintado diferente em cada sala. Como tudo no castelo, o jardim também começou como uma tela em branco e se tornou uma obra de arte, com suas diversas formas e cores vindas das inúmeras flores e lagos.

Torre Eiffel.

Em nossa última noite, decidimos fazer o que não pode faltar em uma viagem à Paris, subir na Torre Eiffel.
Não há como descrever a sensação que é estar lá encima, principalmente de noite. As luzinhas dos prédios, dos carros, dos barcos, das luzes que iluminavam as ruas. Mais uma vez me vi diante de uma cidadezinha de formigas correndo de um lado para o outro em um ritmo que só conseguiria considerar como um caos organizado.

Mas, se tivesse que escolher o que mais me encantou em Paris, eu diria as ruas. Os prédios com suas janelas e varandas perfeitamente alinhadas, os cafés que apareciam a cada esquina, as calçadas repletas de pessoas correndo, cada uma com uma história única, como a cidade.

Por Júlia Machado Shiomi

TURMA 3CTM20201

--

--