A arte de se montar

Rafael Bittar
Iandé
Published in
3 min readApr 25, 2019
Participantes da nona temporada de RuPaul’s Drag Race

A primeira vez que assisti e pude conhecer então, o universo drag, foi pelo reality show norte americano RuPaul’s Drag Race, que é uma competição entre drags que no final coroam a drag superstars da temporada, e já está em sua décima primeira edição.

Essa mundo me deu um ar de liberdade. Era uma libertação da minha personalidade, sexualidade e do meu jeito de ver o mundo e do jeito que eu me via.

Por mais que eu não me “monte” e me maquie como as drag queens, essa cultura permitiu que eu me sentisse livre, livre de todos os estereótipos, sexismo e de tudo que a sociedade deu como correto e errado.

Esse universo permitiu ser eu mesmo. Sem medo. Sem remorso. Saber que alguém há muito tempo lutou pela sua liberdade de amar quem quiser e ser como quiser, oferece um certo suspiro de alívio. Ter alguém na mídia que, de certa forma me represente, para quem vive com medo ser o quem é, traz conforto.

No Brasil, essa representatividade foi trazida por Pabllo Vittar, quando suas músicas estouraram no carnaval de 2017. Desencadeando uma série de críticas e abrindo as portas para todos aqueles que vieram depois dele, sendo responsável por disseminar essa cultura no Brasil, onde hoje em dia é a drag queen mais seguida do mundo nas redes socias.

Sim, quem vive uma sexualidade que foge dos padrões sociais considerados corretos, tem medo. É um receio de sair na rua e não voltar, de ser desacreditado, rejeitado e ignorado, principalmente por aqueles que você mais ama.

RuPaul e Pabllo Vittar

Não sou drag, mas as formas como elas fogem do imposto à sociedade através da arte, pelo menos eu considero, é algo importante. Você deve se perguntar, para quem importa? Para mim e outras pessoas que vivem com receio de viver como ela quer.

A arte delas está muita mais que na maquiagem, nas roupas e performances. Está naquilo que é invisível aos olhos, expresso nos seus pequenos atos “transgressores”. É um modo de ganhar a vida para alguns, mas para outros, é o sinônimo da liberdade. É na arte que sempre encontramos refúgio da loucura e das convenções do mundo. Não é diferente do universo drag. É uma arte da libertação, de se permitir.

Elas nos lembram que nós devemos lutar por aquilo que acreditamos e somos. Não se deve ficar escondido, por mais que o medo tome conta. Ver elas é um escape dos preconceitos diários e ter esperança que um dia, todos sejam como quiserem e amem quem escolherem. E, além do mais, essa forma de arte ajuda a elevar a autoestima tanto de homens quanto de mulheres.

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