A caça mental e aterrorizante de uma das personagens mais importantes da literatura ou: Como me apaixonei por Moby Dick.

Vitor Bighinzoli
Iandé
Published in
3 min readOct 14, 2018

Você escuta sobre a Baleia Branca quando criança.

Você vê homenagens em cartoons como Tom e Jerry.

Você escuta alguma coisa ou outra sobre isso.

Cria-se uma imagem sobre essa tal baleia,

mas você jamais testemunhou a história de Moby Dick.

É uma ficção ou uma odisseia, não sabia o que esperar, vai saber? Pensei antes de começar a ler: “É uma tripulação inteira atrás de uma baleia específica. Como alguém, em sã consciência, vai atrás de uma baleia específica?! Provavelmente, se fosse de verdade, seria uma impossível — uma baleia individual no meio de milhares de outras, através das profundezas do mar. Definitivamente impossível” Mas é exatamente isso…

Múltiplos capítulos se passam e o livro mergulha em histórias daqueles que viveram x e y experiências; você conhece cada personagem, seus medos, suas crenças, seus ódios, suas motivações e convicções. Mas a grande energia que se passa através de todo o livro é a expectativa de ver a tal baleia. Uns ouviram histórias e no decorrer da viagem um navio ou outro que passa conta rumores da posição da Baleia Branca e dos rastros que deixou para trás. Constrói-se uma tensão que não para nunca, “ Cadê a baleia? Onde está? Quando vai aparecer?” pensava cada vez que pegava o livro para ler. Cheguei a um ponto que salivava de ansiedade tal como fazia Ahab — caia-me incessantemente a imaginação do monstro chegando cada vez mais próximo de mim e daquelas pessoas.

As baleias que morrem no caminho, preparam o mar de sangue.

Os bebês que fogem com suas mães, fogem em vão,

pois o ferro gélido não cessa a voar.

Condenados são os homens que roubam os filhos das sereias do mar,

condenados pelo sangue que derramam.

Peguei uma tarde para ler as últimas 70 páginas. Depois de umas três semanas lendo as outras 586, ainda nada da Baleia Branca. Estava deitado no sofá da sala, mais ou menos por volta das 3 da manhã. Faltavam 30 páginas. Ela apareceu. Não creio que posso transmitir esse momento interno em mim, então pouparei você leitor, da maioria. Quando me dei conta de tudo, meu corpo todo assumiu uma tensão que não esperava — meus pés formigavam de leve, meu coração batia mais rápido e minha respiração me levava a um estado de medo. “É ela! É ela!” berrava internamente; era tamanho o transtorno interno, que tive de me concentrar para continuar.

Ela vem, vem de frente — vem para matar.

Não é criatura que explica-se pela ciência, nem mitologia nem religião.

A chuva que cai nos olhos de cada marinheiro, reflete o terror do momento.

Os trovões paralisantes…arrepiam a água e cada peixe do mar se esconde.

Musica toca pelos céus, cada coração sangra antecipadamente e ela vem.

Os ferros gélidos se entortam com medo.

O silêncio é mudo.

A morte se aproxima.

Surge a fera e devora cada membro e cada alma,

os arpões daqueles que ainda tinham força, quebram,

aqueles que fugiam são puxados para baixo e a dor grita.

O mar fica vermelho.

Ela se despede, agradece pela batalha e vai embora.

Quando li a última frase do livro, me senti tonto. Completamente atordoado. Fui até minha varanda e fumei um cigarro, com todas aquelas imagens voando através de minha cabeça e corpo. Foi uma jornada em minha vida que jamais me esquecerei. Terei eternamente carinho e admiração por ela. “Adeus” pensei logo depois, “ Sentirei sua falta”

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