A DOR DO MEU ESPIRÍTO

Por: Matheus Pires de Abreu

Matheus Pires
Iandé
10 min readDec 9, 2019

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Freud diz que vivemos fugindo do sofrimento, idealizamos uma felicidade eterna e constante, a fuga do sofrimento move a vida, como em alguns casos, a derruba. Vivemos no século da depressão e transtornos mentais, os paradigmas sociais que Freud analisara mudaram, a sua interpretação do Eu, bela e profunda, condiz a outros tempos.

Byung-Chul-Han, contrapõe-se a Freud em a “Sociedade do Cansaço” ao além de dizer isso, analisa o sujeito pós-moderno em contraponto ao sujeito pré segunda guerra. O sujeito pós moderno tem um crença no nada impossível e no esforço meritocrata, o esgotamento permeia nossa sociedade atual, pela perda dos instintos limitativos e da negatividade, a negatividade como realidade principalmente, a mentalidade de positividade exacerbada confere uma negação da realidade como ela é, podendo exclamar um descolamento da própria, para uma visão neurótica dela, em níveis mais graves dependendo do sujeito.

Entretanto, mesmo Freud não sendo considerado uma autoridade na análise do sujeito do desempenho, uma característica comum mantém-se a humanidade, mesmo em épocas diferentes, hoje até mais extremo pelo déficit de olhar mais negativo sobre a vida, a busca incessante da felicidade, em negação ao sofrimento.

Levar a palavra total de Byung, como única verdade, seria tolice, sua análise não diminui-se ao colocar um filtro sobre ela, tal filtro condiz a sua análise sociológica, ele analisa o sujeito de forma generalista ou seja, ainda há questões dos transtornos adquiridas por repressões como dito por Freud, mas levar a psicanálise somente ao inconsciente seria mais uma tolice, e eis que a análise de Byung é virtuosa, ela condiz com o tempo atual, e quem sabe um complemento total a psicanálise, neurociência e sim a grande CAUSA do mundo pós-moderno:

DE PRESSÃ O!

A perda do EU

Da pessoa em si

Vira um ser amorfo

Sem identidade

É desconfigurado

Seus elos com o outro são rompidos

A tristeza não te define

Mas a indiferença por tudo

A dor lhe corrói, se odeia

E o melhor escape é se matar

Pois o mundo não tem valor

Pois ele mesmo não tem mais valor

AN S I E D A DE!

Um misto de emoções e conflitos.

Termo banalizado nos dias atuais.

Insegurança, medo, estado de alerta.

Aceleração, cansaço mental.

Dor.

Tudo se torna transitório, irreal, instável e duvidoso.

TABU TABU TABU TABU TABU TABU TABU TABU

A formação de um tabu se dá pela repetição de um discurso, de características repressoras e preconceituosas.
A quebra de um tabu também se dá pela repetição mas por falar sobre o tabu.
O tabu é algo que não se fala, quando se fala se fala com repressividade e de uma maneira muito breve, para menos se falar.
A quebra vem por falar dele. Falar dele e desconstruí-lo. Desconstruí-lo e vê-lo como o algo normal que ele é. O tabu se vê da demonização de algo normal, porém discordante a conjunto de valores sociais da época.

Michel Foucault nos apresenta o funcionamento da sociedade do século XX, mediada pelo medo e repressão, a famosa sociedade disciplinar, de normas sociais, e de alta alteridade ao diferente. Era uma sociedade que pelo medo da repressão e exclusão vivia numa aparência, ideias sólidas sobre o que é o certo e errado regiam a mentalidade dessa sociedade.

Os tabus surgiram dessa ideia irreal sobre o que se considera normal e o que não se considera. Pessoas com doenças mentais ou até pessoas que não apresentavam nenhuma doença, porém não se enquadravam nas normas vigentes, eram tratadas não como doentes, mas como loucos, loucos eram excluídos, mandados para hospícios.

Muitas pessoas reprimiam então o seu EU para enquadrar-se no “normal”, no medo de que poderia ser louco.

Os paradigmas mudaram no mundo atual, mas a nostalgia permeia a mentalidade, e crenças ainda existem dentro do conservadorismo psíquico.

Por isso desde o século passado até a contemporaneidade ainda se sabe muito pouco sobre os transtornos mentais, pois o tabu normalizou sintomas como questões de personalidade.

Está tão normalizado na sociedade sintomas de transtornos mentais, até romantizados que eles passam desapercebidos como graves, por até uma vida inteira, e nunca tratados.

Quantas pessoas se suicidaram pela Dor de um Amor partido, achando que aquele sacrifício era uma demonstração de amor e não de um abalo emocional tão forte, que o levou a um estado melancólico patológico cognitivamente.

Com a ideia que psicólogo, psiquiatra, terapia é para loucos, muitos reprimiram suas dores e agonias, a sociedade normalizou diversos sintomas para enquadrar àquela irrealidade.

E nesse mar confuso o sujeito pós-moderno se perdeu, muitos presos no pensamento transgressor que terapia é para loucos, e agora até com novo discurso pautado no desempenho, que terapia é para gente fraca, muita gente não reconhece que suas dores podem advir de uma enfermidade e não de uma característica da personalidade.

AS DOENÇAS PSÍQUICAS PODEM ADVIR DE DIVERSAS ORDENS, MAS AS PRINCIPAIS SÃO:

TRAUMÁTICAS QUE ABALAM O INCONSCIENTE (MAIS NATURALIDADE NO ABORDAMENTO COMUM)

PSICO-SOCIAIS: REPRESSÃO OU DESEMPENHO (TABU)

QUÍMICA (TABUZASSO)

Eu me apeguei muito a literatura, para entender minhas angústias, minha angústia e sofrimento chegaram num nível que nunca senti, eu pensei até na morte, mas eu tinha esse desejo e saudade pelo meu bem estar e as coisas boas da vida, e procurei um psiquiatra, que me mandou para uma terapia.

Primeiro diagnóstico: Transtorno de Ansiedade.

Recomendação: Terapia irá resolver.

Medos: Remédio eu não quero, por terapia vou resolver minhas coisas, eu não sou

fraco.

Erros: Tudo isso, mas em breve me aprofundo.

Começamos conversar em junho do ano de 2018, eu vomitei minhas ansiedades em seu ouvido, por algumas semanas, até que ele começou buscar onde no meu inconsciente isso se encontrava.

Me passou primeiramente MEDITAÇÃO.

CARACA, meditação me deixou muito melhor mesmo, cê tá louco.

Logo ELA virou um monstro.

Embora eu melhorei, eu ainda sentia ansiedade, e queria fugir dela de qualquer jeito, comecei me cobrar extremamente na meditação achando que ela era a solução, e a mesma virou um gatilho para a minha ansiedade, até que a culpei como um erro, e larguei ela pós muitas crises de ansiedade.

Ali desenvolvi um pavor pela ansiedade.

AN S I E D A DE! Me trazia dor e sofrimento.

As terapias me davam explicação, eu comecei entender coisas que definiram minha personalidade, que segundo Freud é o Caráter do sujeito, o Caráter vem do inconsciente, e o mesmo forma-se das relações afetivas principalmente parentais.

Eu ficava muito tranquilo ao entender várias, faziam sentido.

MAS mano as crises voltavam.

Interpretei uma visão neurótica sobre como funcionava o tratamento terapêutico, criando padrões para tentar melhorar, e fugir da ansiedade. Mesmo depois da sessão eu ficava racionalizando a ansiedade achando que assim a solucionaria, procurando respostas inconscientes além das que o especialista avaliará, eu comecei dar sentidos fantasiosos para vida e para minhas ansiedades, transformando em padrões mentais de vida, tentando fugir de cada ansiedade.

Quando eu caia de novo nessas ansiedades eu entrava num conflito extremo, de desespero, e me culpava. ONDE ERREI? O QUE FIZ? Procurava o meu erro.

Era facilmente levado pelas informações da internet como justificativa e entendimento. Palestras, vídeos, blogs, frases.

Os padrões tornaram-se pensamentos repetitivos, pois a cada ansiedade eu me prendia ao padrão de explicação que criei. Eu pensava em ciclos, eu ficava pensando na mesma coisa por horas, até pensamentos extremamente banais ou anormais surgiam e me assombravam, e eu me desesperava!

ACHEI QUE TINHA MELHORADOOOOO. EU TO DOENTE, O QUE É ISSO?

Ansiedade batia,

BATIA

BATIA

DOÍA

EU QUERIA FUGIR

mas não tinha para onde

EU PRECISVA FUGIR DE MIM

!!!

Procurava um padrão de explicação, tranquilizava-me, 2 minutos depois repetia-se.

Procurava onde o padrão estava errado, para modifica-lo.

Até que não tinha mais sentido.

Me esgotava.

Caía.

E

CHORAVA!

Até as coisas certas da terapia eu transformava em algo irreal por me aprofundar num campo profundo irreal.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!A QUESTÃO é que eu não entendia porque mesmo com a terapia eu continuava sofrendo, mesmo com o reconhecimento de diversas coisas que contribuíam para minha ansiedade, minha agonia, eu continuava sofrendo.

Tudo virou um peso, um simples post na internet já podia me levar a uma longa reflexão, porém num padrão repetitivo, eu meio que perdi o EU, eu não sabia o que era, não entendia nada dos meus sentimentos. Procurava soluções. Coloquei culpa na rotina, pois seguir uma rotina já me deixava ansioso, eu infelizmente vivi por um tempo numa neurose, tive que criar um ambiente neurótico para viver, sofria ao lembrar do que me fez melhorar, mas não adiantou.

Até que

c

a

i

fund

o

Na terapia chegamos no limite.

Eu adquiri uma personalidade defensiva, tudo que ocorria, eu já imaginava que podia atingir meu inconsciente.

Eu comecei faltar na facul.

Tudo virou um peso.

Para ler algo, fazer um exercício, comer, eu tinha que criar um padrão mental.

Até que eu queria só ficar na cama.

Minha terapeuta falou:

“talvez seja melhor você marcar um psiquiatra novamente, Matheus, eu suspeito que você tenha Síndrome do Pensamento Acelerado, mas ele dará um diagnóstico, talvez seja necessário remédio daqui para frente…”

“ AS DOENÇAS PSÍQUICAS PODEM ADVIR DE DIVERSAS ORDENS, MAS AS PRINCIPAIS SÃO:

[…]

QUÍMICA (TABUZASSO) “

Me deparei com meu próprio Tabu.

De começo não aceitei. TOMAR REMÉDIO???

Mas eu lembro de melhorar só com a Terapia, só tem que buscar mais no profundo, desconstruir coisas que me levaram a isso, blá, blá, blá!!!!!!

É que até ali eu não percebia que os padrões não eram normais, eu convivi tanto tempo com eles, que os normalizei como forma de pensamento, achei que todo mundo era assim, com a mentalidade do desempenho e com conflitos meus de infância eles se intensificaram.

A terapia conseguiu me dar clareza das dores por meio dos meus traumas e a literatura e a terapia sobre a cobrança do desempenho, mas como continuava ruim eu atribuía ainda a isso.

FUI NO PSIQUIATRA

Não aguentava mais sofrer!

“Ah! Se o mundo inteiro me pudesse ouvir
Tenho muito pra contar, dizer que aprendi
E na vida a gente tem que entender
Que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri”

Tim Maia

EU tenha uma disfunção química no cérebro.

EU tenha uma DOENÇA.

E ELE deu um DIAGNÓSTICO.

TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO TRANSTORNO

TOC TOC TOC TOC TOC TOC TOC TOC TOC TOC TOC

OBSESSIVO COMPULSIVO TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO TRANSTORNO OBSESSIVO com ideias e pensamentos ruminantes

Reconhecer a doença mudou o sentido de muitas coisas que eu pensava, e criei, ainda está sendo um aprendizado, no começo o medo de largar alguns padrões, mas ao ingerir o remédio simplesmente, toda minha perspectiva da vida mudou, a forma de pensar naturalmente mudou.

Parei de me culpar por antes as aulas da facul, os textos, a terapia, a literatura não me ajudavam efetivamente, só me machucavam.

MAS eu não tinha culpa, era tudo químico.

Meu cérebro não funcionava normalmente, tinha uma disfunção severa na transmissão de neurotransmissores, minha serotonina baixíssima.

EU sofri.

Sofri por muito tempo.

Pois o que eu achava que era uma coisa nunca foi.

Em dado momento se tornou severo esse TOC.

Mas não entendia porque nunca conseguia ler na escola, e parte da vida adulta, não tinha vontade de estudar, tive transtornos alimentares e não fui tratar.

Porque rotinas em dados momentos para mim era impossíveis de seguir senão eu tinha crises.

O trabalho aqui era pra ser um vídeo, mas ainda não estava pronto para realiza-lo pela minha dificuldade de realizar um planejamento sem ter uma crise.

Agora com o remédio EU que conseguiria, mas ele chegou tarde.

EU sofri, sofri por atribuir a mil coisas minha dor, a não me enquadrar a normalidade mental de todos, de simples conselhos e dicas, e me culpava severamente por isso, como se eu fosse um preguiçoso.

Quando tive aula de Freud, sobre o desamparo e a fuga do sofrimento como introduzo esse texto, eu atribui o que ele falava ao meu sofrimento tentei na sua descrição entender o meu mas não entendi.

Normalizei o transtorno achando que aquela mentalidade era normal e não advinda de uma doença.

Para uma pessoa sem transtornos o sentimento mais próximo para vocês seria de um termo banalizado na mente de vocês, mas em mim carregado de dor, pois atribuir o sofrimento no seu termo real, para mim, era banalizar o termo real para significar uma doença.

O remédio é NECESSÁRIO.

ACABEMOS

COM ESSE TABU!

Quando alguém tem gripe, quando alguém tem uma doença, toma-se remédio para melhorar, se o seu cérebro está doente, ainda mais numa ordem química, também se trata com remédio. O cérebro rege o corpo, se ele ta doente o funcionamento do seu corpo todo é afetado. Paremos de normalizar sintomas de doenças mentais, elas têm que ser tratada.

E sendo uma pessoa com TOC em tratamento percebo, a sociedade cobra de alguém doente como cobra de alguém não doente. E isso de velar a doença, só piora a vítima dela pois ela não consegue funcionar dentro daquela normalidade cobrada, ela se culpa e se afunda mais na doença e na insatisfação com si.

Tanto que melhorei muito ao reconhecer ela e parar de me cobrar em diversas coisas e parar de achar falsas respostas.

Os nossos tempos reforçam essa mentalidade.

Muitos indivíduos com depressão acham que é a depressão que está fazendo elas não terem ânimo e vontade de trabalhar, sendo que o trabalho exacerbado é que é o causador da depressão e do desgaste e incapacidade.

“Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
[…]

A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais”

Belchior

Não sou religioso mas se posso descrever de uma forma sucinta o sentimento da dor que senti, parecia a morte da minha alma, parecia a perda do meu elo, a perda do meu EU, assim: a dor do meu espírito.

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