Curta Universitário

A esperança da certeza

O foto-filme ‘Hiponatremia’ (2021), apesar de incômodo, se propõe a refletir sobre a reação diante a opressão e o limite da mesma

Pedro NdS
Iandé

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Hiponatremia, 2021

Hiponatremia é um termo que designa a morte causada pelo excesso de consumo de água, o que em si já revela uma contradição trágica porém interessante, é necessário beber água pra viver porém esse excesso leva a morte.

O foto-filme, em sua narrativa, procura, então, refletir não apenas sobre os limites de sobrevivência, mas sobre os limites do próprio formato em que ele é feito.

A ideia e o formato

A obra se inicia com a imagem de um balde sendo enchido e o título, que acaba por mostrar a causa de uma morte anunciada. Logo em seguida, temos o autor bebendo água uma série de vezes, e esse ato fica cada vez mais repetitivo a medida que um som irritante vai aumentando ao ponto de ficar insuportável tanto o ato de beber água quanto o ruído. E quando achamos que não é mais possível aguentar, o autor vomita e o som cessa — pelo menos parte dele. Isso representa não só a situação atual que vivemos em que somos levados ao limite, quanto a própria relação do individuo com o trabalho e sua convivência no capitalismo.

Assim como é necessário água para sobreviver, também é necessário o trabalho. Contudo, as novas relações que se apresentam com o avanço do neoliberalismo são extremamente desumanas. Vide o maior exemplo dos nossos tempos: o fenômeno da uberização, no qual, com uma roupagem de “você é seu próprio chefe”, grandes empresas conseguem explorar o trabalhador sem qualquer tipo de vínculo empregatício, como férias, décimo terceiro, seguro de vida ou convênio.

Infelizmente esse tipo de trabalho se mostra como o modelo do futuro. E assim como no vídeo bebemos mais e mais água e ouvimos mais e mais o ruído até ficar mais claro que será preciso interromper, tanto o gesto — no filme, a água e na vida, essa relação de trabalho — quanto a forma — o foto-filme na obra e, na realidade, o capitalismo. Atos estes que se mostram tão sequenciais como vomitar após beber muita água.

Foto do filme Hiponetremia, 2021

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