A felicidade interrompida

Arthur Martinez
Iandé
Published in
4 min readApr 24, 2019

Por trás de tanta felicidade, um acontecimento triste marcou uma semana que, para mim, seria uma das mais inesquecíveis da minha vida. O dia era 26 de novembro de 2016, um domingo ensolarado e transbordado energias positivas. O Palmeiras estava prestes a levar o título de campeão brasileiro pela primeira vez em 20 anos, inédito na minha vida até então, e como na maioria dos jogos, estive presente no Allianz Parque com a companhia do meu querido pai.

Allianz Parque no dia do jogo (40.986 torcedores)

A equipe da Chapecoense foi quem visitou o estádio alviverde para tentar adiar essa festa. Considerada um ‘xodó’ de vários torcedores pelo Brasil, foi muito bem recebida em nosso estádio e jogou de igual pra igual contra um elenco fortíssimo do Palmeiras.

O clima era de festa desde de manhã, uma vez que era praticamente impossível perder o título e claro, a euforia nas arquibancadas era muito grande. Começando pelo hino nacional, a torcida do verdão faz algo considerado por muitos, desrespeitoso, que consiste em trocar toda a letra do hino por “meu Palmeiras”. Nesse momento já quase me emociono, mas me seguro e penso que devo guardar para o final. Como dito, a equipe de Santa Catarina encarou o time da casa com muita vontade, mas a diferença nos planteis era muito grande, sendo uma questão de tempo para sair o gol do Palmeiras. Dito e feito, o Palmeiras abre o placar com Fabiano, um dos jogadores menos talentosos do time marcava o gol que daria o título tão desejado e aguardado.

Fabiano comemorando o gol com os jogadores reservas

Conseguindo manter a vantagem, o Palmeiras se sagrou campeão e. em um ano cheio de subidas e descidas, conseguiu um grande feito. Chorei, como milhares ali no estádio e no Brasil inteiro.

Diante de tanta felicidade, um aperto no coração me deixou com uma dúvida enorme sobre o que seria aquilo. Estava me sentindo triste pela Chapecoense, mas não pela derrota em si, mas por algo que eu desconhecia no momento. O time de Chapecó ficou ali para aplaudir o time campeão, em um gesto de grandeza e respeito enorme por parte deles. Todos muito felizes, uma vez que estavam na final da Copa Sul-Americana pela primeira vez na história, e alguns ainda treinaram no próprio estádio para estarem na sua melhor forma no jogo decisivo, uma vez que viajariam para a Colômbia no dia seguinte.

Voltando para a vida normal, depois de tanta festa e emoção, fui para a escola com um sorriso e orgulho enorme. E no intervalo das aulas, recebo em meu celular a notícia de que o avião que levaria os jogadores da Chapecoense cai em uma montanha com acesso extremamente estrito. De início, mantive esperanças de que vários sairiam vivos, mas com mais e mais notícias vindo, essa esperança caía cada vez mais.

Galvão Bueno no Jornal Nacional relatando o acidente

O acontecimento, para mim, demorou muito para ser ‘engolido’. Tinha acabado de vê-los todos no dia anterior ao vivo, próximos de mim, e no dia seguinte saber que quase mais ninguém deles estava mais entre nós, me forçava a acreditar que era tudo mentira. Infelizmente, encontrei o motivo do sentimento negativo que tive, em meio a tanta alegria. Muitos dos jogadores e outros passageiros do avião possuíam filhos, e o que ficou mais marcado foi o do filho de Danilo, que em meio a tanta tristeza, disse: “agora meu foi morar com o papai do céu.”

Danilo com seu filho

No que seria uma semana de comemorações e festas, se tornou um luto completo e difícil de digerir por todos. Não parecia que tínhamos conquistado um título, aquilo não interessava mais.

O que me marcou, foi ter o privilégio de assistir o último jogo desses heróis, que iriam conquistar um continente vindos de uma cidade pequena, com menos de 200 mil habitantes. É uma honra que poderei dizer que tive aos meus netos e bisnetos, e uma gratidão imensa pelo que fizeram, tanto pelo povo de Chapecó, quanto para o futebol.

Moisés (esquerda) e Danilo (direita) em seu último jogo da carreira

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