A minha experiência sensorial de transferências.
Algo de que me dei conta recentemente, por mais que já estivesse explícito em minha personalidade desde o início da minha adolescência, é o quão tocante me é quando alguém se sente à vontade o suficiente para se abrir comigo. Este ato, o da transferência, como descrito por Freud em seus estudos da psicanálise, é um fenômeno que acontece universalmente, e que, através da fala, autêntica e espontânea, transfere emoções vividas no passado para o momento do discurso. O desabafar, por exemplo, que dá a sensação de se tirar um peso da consciência tem certamente um efeito terapêutico, do alívio, da leveza, que é resultante da consequente elaboração das emoções dada pelo funcionamento psíquico do recordar e repetir. Essencialmente, a transferência é uma forma de se expressar o amor, um momento em que a vulnerabilidade é boa, em que ocorre uma partilha do íntimo, em que se aprofunda a intimidade.
A sensação de ser objeto desse amor, ato de confiança, me parece um abraço dos sentidos, que pode ser dado pelo simples escutar. O que é dito é algo intrínseco à essência da pessoa, que muitas vezes é encantadora em sua subjetividade. Deixar-me afetar pelos afetos de outra pessoa faz-me sentir conectado a sua subjetividade, esta que, para mim, deveria ser em cada um de nós um de nossos maiores objetos de contemplação.
Contudo, o outro lado dessa moeda por muito tempo me foi desconhecido. A ideia de me permitir abrir era demasiada assustadora, até que, graças à necessidade, deixou de ser. Hoje, vejo na transferência, a criação de laços íntimos que conectam de uma forma extraordinária, vejo na vulnerabilidade também seu aspecto bom e como ele pode e deve ser aproveitado. Ao repetir partes do quebra-cabeça da minha existência me sinto compartilhado, e existem pessoas com quem isso realmente vale a pena.
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