A pré-estreia de Star Wars: Os Últimos Jedi

Humberto Crispim
Iandé
Published in
7 min readApr 23, 2019

Experiência estética de Humberto Crispim

Pôster de Star Wars — Episódio VIII: Os Últimos Jedi (2017)

Star Wars é uma das maiores, se não a maior, franquias do entretenimento desde o lançamento do primeiro filme em 1977. Como a maioria das crianças, eu sempre fui apaixonado por filmes. Inicialmente mais pelas animações da Disney, Pixar e Dreamworks, mas, com o passar dos anos, a paixão se estendeu aos diversos filmes live-action de aventura e fantasia. Lembro-me de quando meu pai comprou meus primeiros DVDs de Star Wars, e foram apenas dois dos seis: o Episódio III — A Vingança dos Sith e o Episódio VI — O Retorno de Jedi. Mesmo sem entender muita coisa que se passava, eu me encantava com a aventura e a magia que via na tela. Brincava com sabres de luz de brinquedo e fingia ser um Jedi, podendo mover as coisas com a Força. Porém, com o passar do tempo, meu interesse mudou e o meu foco no entretenimento passou a ser outro (animes e games).

Pôster de Star Wars — Episódio VI: O Retorno de Jedi (1983)

Eis que, em 2012, a Disney compra a Lucasfilm, empresa dona dos direitos de Star Wars, e anuncia uma nova trilogia que começaria em 2015. Não sabia se ficava empolgado ou não, pois todo adolescente tem a predisposição de não gostar de nada, mas o precedente da compra da Marvel Studios era bastante positivo. Meses antes da estreia de Star Wars — Episódio VII: O Despertar da Força em dezembro de 2015 eu decidi rever todos os seis filmes anteriores e minha paixão pela franquia reacendeu. Fui empolgadíssimo na pré-estreia e amei o filme. O novo olhar sobre esse universo conseguiu colocar Star Wars novamente no núcleo do meu coração. A questão é que Episódio VII usou a exata estrutura narrativa do primeiro filme de 77, Uma Nova Esperança, e mesmo amando o filme eu queria ver uma novidade, na verdade todo fã de Star Wars expressou isso naquele momento.

Pôster de Star Wars — Episódio VII: O Despertar da Força (2015)

Treze meses se passaram e 2017 chegou. Esse ano foi muito marcante para mim. Entrei no curso de direito da PUC-SP e mudei de Goiânia para São Paulo. Pensei que seria o início da minha vida adulta e profissional, o início do meu futuro, mas tudo isso se despedaçou em alguns meses. Com o passar do primeiro período do curso eu fui percebendo que, mesmo adorando o conteúdo das matérias, nada daquilo ressoava comigo e eu sentia que não estava no caminho correto. Passei algumas semanas na escuridão, sem saber o que fazer e pra onde ir. Foi o pior momento da minha vida. Então eu percebi que existia algo que eu realmente amava, e sempre amei. Histórias. Mesmo descontente com a faculdade eu ainda ia toda semana ao cinema e passava horas lendo histórias em quadrinhos nos fins de semana. Decidi trancar o curso, voltar para minha cidade natal e tentar entrar em uma faculdade de cinema. Esse parecia realmente o meu caminho.
Depois de todo esse ano turbulento e sofrido, chegou dezembro, mês de lançamento de Star Wars — Episódio VIII: Os Últimos Jedi. Desde que o título e o primeiro clip do filme foram revelados houve uma comoção entre os fãs. “Como assim Luke Skywalker disse que os Jedi têm que acabar?”. Parecia inconcebível. Várias pessoas protestavam e citavam uma frase icônica do próprio Luke em Episódio VI: “Eu sou um Jedi. Igual a meu pai antes de mim.” A expectativa era alta e o medo, maior ainda. Todos queriam saber o que Rian Johnson, diretor e roteirista do filme, tinha planejado para a franquia.
Quarta-feira, 13 de dezembro, lá pelas 23 horas da noite. O cinema estava lotado para a pré-estreia do filme. Dezenas de pessoas fantasiadas de Jedi, Sith, do Luke, Rey, Kylo Ren ou o que quer que fosse. Tinha até um cachorrinho vestido com o manto Jedi. A fila era gigantesca, mas todos estavam empolgadíssimos. Entramos na sala e nos sentamos, o cara à minha direita me desejou um bom filme e eu respondi o mesmo. A sala escurece e são exibidos alguns trailers. Então… Silêncio. Aparece na tela: “Há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante” e explode a trilha mais que icônica de John Williams. O público também explode em gritos e sabres de luz sendo acesos. O filme começa com a base da Resistência sendo descoberta e atacada pela Primeira Ordem, semelhante ao que acontece no início de Episódio V — O Império Contra-Ataca (universalmente considerado o melhor filme da saga). Poe Dameron (vivido por Oscar Isaac) distrai a nave encouraçada com manobras nunca antes vistas que deixam todo mundo na sala de boca aberta e sem fôlego. Cada cena da Leia corta o coração de todos devido ao falecimento de Carrie Fischer no final de 2016. Os rebeldes aparentemente consegue fugir, então o filme corta para onde o Episódio VII acabou: Rey entregando a Luke o sabre de seu pai. Há dois anos esperávamos ansiosamente pela continuação disso e somos completamente surpreendidos: Luke pega o sabre e joga fora. Essa foi a ideia mais ousada e divisiva do filme, a de transformar Luke num mestre caído, sem esperança e isolado. Ele conta que tentou treinar alguns discípulos, mas seu sobrinho, Ben Solo, caiu para o Lado Sombrio e matou todos os alunos, assim se tornando Kylo Ren, o vilão da nova trilogia. Então Luke desistiu da galáxia e se fechou para a Força. Rey insiste para que ele a treine e volte, mas ele é irredutível. Então Luke vai para a nave do seu recém-falecido melhor amigo, a Millenium Falcon (nave mais icônica da cultura pop). Lá ele reencontra R2-D2, robô que o incitou à sua primeira aventura no filme de 1977 com o holograma da Princesa Leia. R2 xinga seu mestre por ter fugido e se escondido, Luke responde que não há nada que o faça voltar para a luta. Então o robô dá um golpe baixíssimo tanto em Lule quanto na audiência, ele mostra de novo o mesmo holograma do primeiro filme. “Ajude-me Obi-Wan Kenobi, você é minha única esperança” é o que Leia exclamou quando Luke era um jovem e o impeliu a ajudá-la. Agora, décadas depois, isso o impele novamente a ajudar sua irmã e ele decide treinar Rey. A revisitação da cena mais marcante do primeiro filme, somada à morte de Carrie Fischer, foi mais que o suficiente para fazer com que todos sentados na sala de cinema se debulhassem em lágrimas, eu incluso. Nunca chorei tanto por causa de um filme. A trama então segue o treinamento de Rey, a partir da Luz, e Kylo Ren, no Lado Sombrio da Força. Cada um enfrenta o passado de uma maneira diferente. Kylo acha que deve destruí-lo para se tornar quem deve ser. Foi isso que fez com o próprio pai no Episódio VII e é isso que quer fazer com seu antigo mestre, Luke. Já Rey entende que há coisas que devemos aprender com o passado, tanto erros quanto acertos.

Cena do holograma em Episódio IV — Uma Nova Esperança (1977)
O mesmo holograma em Episódio VIII: Os Últimos Jedi (2017)
Luke revendo o holograma 40 anos depois em Os Últimos Jedi

No final do filme, há um sacrifício para que os rebeldes consigam fugir da Primeira Ordem e se reagrupar. Nesse sacrifício cria-se uma nova lenda na galáxia, que serve de inspiração e aprendizado pra todos seguirem em frente, lutando contra as forças opressivas e totalitárias. O filme se tornou o meu favorito da saga, pois ele se utiliza do melhor que houve antes para dar mensagens extremamente importantes, e a principal delas é sobre aprendizagem. Ele diz que não há problema em olhar para trás quando você se encontra numa situação difícil, pois é assim que você adquire o necessário para seguir em frente. Isso se aplicou à minha realidade e experiência individual, pois foi analisando quem eu era e o que me inspirava desde a infância (filmes, livros de fantasia, desenhos animados e quadrinhos) que eu consegui enfrentar o pior ano da minha vida e achar o meu caminho para o futuro.
Nas palavras do maior sábio de Star Wars, o mestre Yoda, para um Luke velho e desesperançoso: “Transmita o que você aprendeu. Força, conhecimento. Mas fraqueza, insensatez, fracasso também. Sim, fracasso acima de tudo. O maior professor, o fracasso é. Luke, nós somos o que eles crescem além. Esse é o verdadeiro fardo de todos os mestres.” E, por tudo isso, muito obrigado, Rian Johnson.

Rian Johnson, diretor e roteirista de Os Últimos Jedi, no set do filme

--

--