A tempestade de verão no meu coração

Barbara Martins
Iandé
Published in
2 min readDec 6, 2022

Eu sentia que tinham menos limites da minha imaginação quando tudo o que eu tinha era, de fato, a minha imaginação. Quando sonhava sobre a familiaridade de lugares onde nunca estive e a ansiedade de algum dia estar, eu me sentia mais próxima desses lugares, de mim mesma e dos meus desejos; talvez não desejo, mas sim a idealização de alguma certa experiência.

Conforme eu envelheço, eu consigo perceber que de fato, existem alguns lugares que só existem dentro de mim. Eles são, talvez, uma junção de algumas coisas. Uma música que me faz sentir um sentimento específico junto ao seguimento de um filme japonês de 2004; grama por cortar e o recém término de uma chuva de verão.

Eu costumava acreditar em vidas passadas e reencarnação; eu acreditava que a sensação que eu sentia quando pedia que o crepúsculo nunca acabasse enquanto a noite descia no meu caminho até o começo da rua em direção a avenida, porque toda aquela paisagem naquele exato momento me trazia um conforto que eu nunca havia sido capaz de colocar em palavras era uma de alguma vida passada. O ajuste de visão do claro para o escuro que nunca parecia completo fazia tudo parecer um sonho. Eu não estava de todo errada: era uma vida que eu de fato já tinha vivido. Um lugar onde existia uma outra eu, envolvida no cetim fosco e brilhante da minha memória dela, com cabelos ao vento, roupão de banho, final da tarde quente com nuvens pintadas no céu para o começo do por do sol alaranjado perfeito, sendo seguido pelo começo da noite serena. Rabo de cavalo molhado, bochechas rosadas, sorriso e olhos curiosos e atentos, ignorante ao fato de que ela viveria para sempre na memória de alguém: ela mesma, a outra ela; eu.

As memórias das tardes da minha infância mergulham dentro da minha própria imaginação e idealização dela mesma; das minhas vontades e sonhos. Meus instintos e arrependimentos, minhas felicidades e recordações. Existem muitas de mim. Eu sou todas as pessoas que já fui, e todas as pessoas que ainda vou ser.

3GCE2022

Photo by Nathan Fertig on Unsplash

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