MAZAL TOV

À frente da colagem, eu. Atrás, eu também. Victor Kracochansky Livi, descendente de judeus russos que escolheram o Brasil como terra de novas oportunidades

Livivico
Iandé
3 min readMay 17, 2022

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À frente, uma foto em 2022 . Atrás, eu carregando a Torah (ou Torá) em meu Bar Mitzvah, realizado no dia 8/10/2015.

O Bar Mitzvah é a cerimônia que insere o jovem judeu como um membro maduro na comunidade judaica. É considerada a parte mais importante da vida de um menino judeu. É um rito de passagem, um sinal de crescimento e amadurecimento, uma chamada para a responsabilidade como adulto, principalmente um adulto judeu.

O que espera-se do adulto judeu? Principalmente, o cumprimento das Mitzvot, uma série de mandamentos que deveriam ser seguidos. Eu segui-las? Não.

“Dizer o Shemá duas vezes ao dia’. Não o fiz. Para ser sincero, não o lembro decor.

“Homens não devem barbear-se com uma lâmina”. Pelo bem de meu rosto, fiz. (Não gosto da minha barba).

Assim, percebo que não amadureci como um judeu, e meu Bar Mitzvah foi o ápice da minha conexão com a religião judaica. Mas isso me faz “menos” judeu? Existe algo como intensidade dentro de uma religião? Para ser adepto, deve ser diariamente praticada? Ou ela funciona como um “carimbo’, estampado no momento em que nasci?

Gostei de fazer Bar Mitzvah, e considero essa uma das coisas mais importantes que fiz em minha vida. Mas fiz por livre arbítrio? Fiz por fazer? Eu amadureci como judeu?

Eu carreguei uma Torá. Li a Torá. Por que isso não me afetou a longo prazo? Por que foi algo momentâneo?

Lembro da chuva de balas, suavemente jogado pelos mais velhos, pelas mulheres, e pelas pessoas com mais noção, e o meteoro das mesmas guloseimas, jogados com a velocidade das balas de um revólver pelos amigos e pelos homens das famílias convidadas, em desejo a uma vida doce para mim. Tenho uma doce vida. Será que eu não deveria retribuir?

Lembro do meu orgulho e de todos os presentes assim que minha cerimônia de Bar Mitzvah chegou ao fim. Sorriso estampado na cara de todos. “Mazal Tov”, celebram. Os meus amigos me dando tapinhas (e alguns tapões, de sacanagem) nas costas. Os adultos parabenizando os meus pais. As tias e avó dando beijos melados e babados, com a boca decorada de batom, além do abraço forte suficiente para estalar minhas costas dado pelo meu pai, pelos tios e pelos primos.

Tive orgulho do que? Não consigo encontrar uma resposta.

Atrás da colagem, um jovem judeu que inocentemente acreditou que, após seu Bar Mitzvah, iria ser mais adepto à sua religião. À frente, um jovem que pensa: “Sou judeu (?)”

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