Alugando o amor

Isabela Guaraldi
Iandé
Published in
3 min readApr 16, 2018

Experiência estética. Para entender esse conceito, precisei separar as duas palavras e assimilar seus significados separadamente: “experiência” é vivenciar algo que te dê conhecimentos, normalmente por meio da prática; já “estética”, está relacionada com a arte, em todas as suas formas e, usualmente, é associada à aparência.

O conceito, portanto, seria vivenciar alguma arte que, além de suas críticas e ideias extremamente importantes para a compreensão da visão de seu criador sobre o mundo, impacte a vida do espectador também por sua parte visual, sua apresentação, sua forma exterior, sua estética.

Elenco de RENT, na Broadway, em 1996.

“RENT” é a minha experiência estética. Originalmente lançado em 1996, o teatro musical de Jonathan Larson foi um enorme sucesso da Broadway. Contando a história de 8 amigos em Nova York, que passam por muitas dificuldades — inclusive para pagar o aluguel, de onde nasce o nome do musical em inglês “rent” — e preconceitos.

Assuntos como homossexualidade, AIDS, drogas, liberdade sexual, desemprego e depressão, que não apareciam comumente em musicais até então, são fortemente retratados por meio dos 8 personagens principais: Mark, um cineasta; Roger, um músico; Mimi, uma dançarina; Maureen, uma artriz; Joanne, uma advogada; Angel, uma drag queen; Collins, professor de filosofia; Benny, locador do prédio em que todos vivem.

A peça, um sucesso absoluto, ganhou diversos prêmios, inclusive “Tony Award” de melhor musical e “Prêmio Pulitzer de Teatro”, em seu ano de estreia. Diferentes remontagens do musical aconteceram ao redor do mundo, chegando ao Brasil em 1999, com direção geral de Billy Bond.

Em 2016, outra remontagem de RENT, em São Paulo, ocorreu em comemoração aos 20 anos da peça e, foi assim que encontrei minha experiência estética. No último dia em cartaz, uma amiga, extremamente apaixonada pela história que já tinha assistido 3 vezes, me levou para ver. Honestamente, na primeira parte da peça não me interessei muito, já que por conta dos lugares extremamente longe, não conseguia escutar as falas e muito menos entender o que os atores estavam cantando. Mas depois do intervalo, decidi focar totalmente na apresentação e o resultado: saí do teatro chorando de emoção e querendo assistir de novo para poder apreciar tudo desde o começo.

Para a minha sorte, por causa de inúmeras manifestações na internet de apoio à volta do musical (#VoltaRENT), a peça voltou a ficar em cartaz, no início de 2017 e, melhor ainda, no teatro da faculdade em que estudo, o Teatro FAAP. Não poderia pedir nada melhor.

Elenco de RENT, em 2017, no Teatro FAAP.

No total, fui em 6 apresentações e, se pudesse, iria em mais. Esse fanatismo, essa paixão pela história, pelos personagens, é desencadeado não só pelas ideologias representadas — extremamente atuais, por sinal –, mas também pela forma como são apresentadas. A relação dos atores com seus personagens, da própria plateia com a encenação, das músicas que ficam em sua cabeça, a cenografia, as cores das luzes representando as estações do ano, tudo faz com que o público sinta o amor, que é o principal sentimento que o musical quer passar para as pessoas. O amor ao próximo, o amor ao diferente, o amor ao igual, o amor próprio. O amor.

Essa experiência foi marcante, pois além de me ensinar sobre a vida e sobre como eu devo melhorar como pessoa, também me mostrou a falta de amor, em todos os sentidos, na sociedade de hoje.

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