Aquele poema
Um dia desses, mexendo em minhas coisas encontrei um caderninho, um presente que recebi quando tinha 15 anos, de uma professora no meu último dia de aula na escola de inglês. Ela deu um caderninho desses para cada aluno da sala, cada um com sua própria capa e um poema diferente escrito na primeira página.
Durante a escola, eu tive bons professores, mas poucos me marcaram como essa, ela era mais que uma boa professora, os alunos disputavam sua atenção na sala de aula, era alguém de quem queríamos ser amiga. Apesar de ter sido nossa professora apenas por um ano, nossa sala ficou muito próxima dela. Costumávamos brincar que ir àquelas aulas duas vezes por semana era nossa terapia, pois era o momento que esquecíamos as responsabilidades do ensino médio e por duas horas éramos um grupo de amigos muito mais do que uma sala de aula e todos os exercícios e temas do curso tornavam-se debates interessantes.
Na primeira página do meu caderninho a professora transcreveu um trecho do poema “Oh the places you’ll go” do Dr. Seuss, um escritor americano de livros infantis, conhecido pelo livro “O gato do chapéu”. Talvez para quem o lê possa não parecer algo tão significativo, mas acho que só seria possível entender sua importância para mim participando das aulas que tivemos durante aquele ano. O poema foi apenas um símbolo de como aquela experiência toda me mudou, o ano inteiro foi um aprendizado muito além do que se esperaria de aulas de inglês, algo que abriu minha mente para questões políticas e sociais, por exemplo.
O poema tem como principal mensagem a auto confiança, ao lidar tanto com vitórias como com derrotas. Recebê-lo em uma fase da minha vida de muitas inseguranças ajudou na mudança do modo como eu me via. Aquele poema foi escolhido para mim e através dele pude me ver de uma forma diferente, me ver pelos olhos de outra pessoa, alguém que eu admirava. Pode parecer bobo mas isso me encorajou a acreditar mais em mim mesma, em uma fase que eu realmente precisava.
É claro que inseguranças não se resolvem de uma hora pra outra, é um processo constante no qual ainda estou trabalhando, mas lendo esse poema hoje percebo como mudei após aquele ano, não só em relação a mim, mas também, de certa forma, ao mundo.
Aquele ano inteiro foi especial, nossa sala tornou-se muito unida e guardo memórias incríveis de nosso grupo e do que aprendemos juntos. Não tenho mais tanto contato com aquela professora e só me restaram alguns amigos próximos daquela sala, mas todos nós levamos nossos caderninhos, cada um com seu poema, cada um com um pedacinho do tempo que passamos juntos.
Às vezes, quando encontro esse caderninho, leio o poema novamente, mesmo ele sendo muito simples e infantil, gosto da sensação que me traz, das lembranças, da autoconfiança, dos aprendizados e gratidão por ter tido e continuar tendo pessoas inspiradoras em minha vida.
Tradução do poema:
Oh!
Os lugares que você vai!
Você vai estar em ascendência!
Você vai estar vendo grandes visões!
Você vai se juntar a grandes voadores
que voam as maiores alturas.
Você não vai ficar pra trás, porque você tem a velocidade.
Você vai passar a galera toda e logo tomar a liderança.
Aonde quer que você voe, você vai ser o melhor dos melhores.
Aonde quer que você vá, você vai bater todo o resto.
Exceto quando você não bater
Porque, as vezes, você não vai.
Nathalia M. C. Souza
3CCM20172