Arrasa

Por Maria Julia

Maria Julia da Silva
Iandé
3 min readOct 15, 2018

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Vander Clyde, ou Barbette e Frances & Lonas

O termo dragqueens era designado para homens que nos 20/30 se vestiam como mulheres para fins teatrais, mas ao longo de todos esses anos a expressão e o movimento ganhou ressignificações. Nos EUA, os anos 40/50 dava aos homens o ato de se vestir com adereços femininos a aceitação para o entretenimento, mas não era visto como uma resistência da comunidade LGBT como hoje, e também não era aceito fora dos palcos. Ao passo que o conservadorismo ia crescendo a arte foi se tornando extremamente censurada e condenada pelos heteronormativos que antes os assistiam.

No final dos anos 50, os bares gays foram ganhando seu espaço para que a prática da arte de se montar e performar se tornasse um lugar seguro, sem o repúdio dos conservadores nas apresentações. Marca também o inicio das imitações das grandes celebridades, como Marilyn Monroe na época. Nos anos seguinte a comunidade LGBT+ instaura sua luta pelos seus direitos, e a imagem das drags no Stonewall onde foi palco de manifestações violentas nos anos 60, fizeram jus ao empoderamento do movimento naquele momento, com o ato de ironizar policias ao jogar moedas, e vandalizar as viaturas com suas bolsas de mão. Marsha P Johnson, a icônica drag negra estava na linha de frente gritando pelos direitos LGBTs tornando-se uma figura fundamental daqueles anos de luta.

Documentário Paris is Burning (completo)

Nos anos 70/80 o advento da AIDS enfraqueceu o movimento de resistência LGBT que aos poucos se reergueu no meio do caos da marginalização e da pobreza em Nova York. Paris is Burning, o documentário talvez mais importante na cultura gay, traz não apenas a ascensão do Vogue, mas também como as “Houses” de drags e travestis no meado dos anos 80 era o real significado da resistência do movimento LGTB+. O Vogue se tornou famoso nos ballrooms dentro das “houses”, ele não é apenas uma dança, ele tem uma estética própria, dá expressões e empoderamento. É a autoafirmação das drags e travestis, que ajudou a comunidade negra desse movimento a ganhar voz dentro do ativismo LGBT.

Club Kids

Mais tarde, o movimento queer e o não binarismo traz a desconstrução de gênero para o mundo das drags. Não é mais preciso afirmar o personagem drag em uma estética feminina, se cria sua própria estética atrelada ou não aos gêneros, ou saindo até da aparência humana. De 1990 aos anos 2000 as clubbers se tornam ícones que espelham até hoje o movimento draqueen.

Mas o que isso tudo tem a ver com a minha experiencia estética? Em 2014 quando meu melhor se assumiu gay, sua válvula de escape para lidar com a situação foi começar a se montar. Nesse momento do meu contato com o mundo drag, aquelas maquiagens, roupas e perucas maravilhosas prederam a minha atenção. Eu me senti tão extasiada com aquele turbilhão de informações, mas além disso todo o significado de resistência que tornam as drags personagens maravilhosas. A arte através de seus receptivos corpos, a estética de suas transformações está carregadas de suas próprias experiencias que trazem à tona ao seu público uma experiencia da experiencia. Uma manifestação social que grita através da estética e carregada de sentidos, do visual nas cores das suas roupas até a audição quando cantam os hinos LGBTQ+. Essa experiencia estética de estar no mundo drag me trouxe tanta admiração que resolvi fazer um doc, antes até de começar a fazer cinema. Seria perfeito para essa ocasião de tentar passar visualmente o que eu experimentei. Infelizmente meu computador quebrou e perdi os vídeos. De toda forma, recomendo a quem estiver lendo esse trabalho, que assistam a uma performance, das periféricas as drags do Clube Yatch. É maravilhoso!

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