B.R.A.S.I.L
Como o Jacarandá me inspirou a construir, através da arte, meu olhar de Brasil
Por volta da terceira semana de outubro de 2022 estava andando em um parque próximo a minha residência. Nas minhas saídas de casa, geralmente para algum lugar de natureza em meio a cidade de concreto, vasculho e levo comigo coisas que tornam-se significativas para mim no meio do caminho e que acredito que mereçam ir comigo de volta para casa. Hoje foi dia de roubar frutos e sementes. Espalhadas por um chão gramíneo virgem e continuo, diversas vagens da árvore do Jacarandá estavam ali presentes que me chamaram atenção. A quantidade existente já presente me surpreendeu. Pela pluralidade de semelhanças que o prematuro fruto do jacarandá mimoso se parece, desde conchas quando estão fechadas a folhas e maçãs ao se abrirem, já entendia que isso era motivo suficiente para resignifica-las. Ao chegar em casa, essas não foram as únicas coisas que vieram, mas as únicas que construíram um significado a minha obra.
Meu pai sempre gostou de vinho e recebeu caixas de madeira que seu destino final foram sempre os entulhos do meu ateliê. Nunca conseguia torná-las em arte, pois meu medo de estraga-las com algo que não me contentasse com o resultado, frustraria-me. O Jacarandá me deu essa coragem.
Cheguei em casa e acreditei que dali sairia algo. A época é eleitoral. O Brasil ferve e seu povo também. Simultaneamente o passado de um Brasil continua na história. A construção não é do zero, é continua e impossível de ser ignorada. Meu instinto manifestante borbulhara.
Rompi o Jacarandá em dois como a própria estrutura frutífera me permite. Diante lados opostos entre os dois interiores do fruto do Jacarandá no fundo amadeirado, eles pareciam semelhantes e diferentes simultaneamente. Um lado havia mais sementes grudadas do que o outro e por mais que tentasse posicionar as faces do fruto sobre o fundo de forma a mostrá-los unidos e em pé, ao soltá-lo diante do papel eles dividiam-se. Seria uma tentativa frustrante e infinita tentar colocá-los unidos e fechados mas simultaneamente mostrando seu interior. O todo não sustentava-se após ter-se rompido. Isso só era possível se voltasse o para o passado, colasse as faces e o tirasse apoiado de cima do fundo de madeira, mas no momento eu amei conhecer o interior, então colá-los não era uma opção. Engoli a seco a realidade. Busquei algo simétrico que me contentasse esteticamente. Estabeleci a linha divisória da caixa de madeira do meu pai e colei-os. Se deixasse as sementes como estavam, claramente só um lado teria. Distribuí-as. Lembrei que antes de toda divisão, a união cheirava outro grão. Café. Distribuí-os também. Simetricamente estavam o fruto subdesenvolvido do Jacarandá, suas sementes e o café. Mas até agora, isso foi tudo que pude fazer. Se eu deixasse como estavam iria apenas fingir que eles não tinham diferenças e assim disfarça-las segundo minhas divisões que são meramente ilusórias, pois na realidade, o contraste, mesmo vindo do mesmo fruto, existe.
Peguei um pequeno pote que sobrou de purpurina ouro. Ao meu lado direito estava a tinta vermelha. Na gaveta peguei moldes de letras e com o resto da purpurina escrevi “B R A S I L” com certo distanciamento. Suas vertentes e fases já estavam bem claras.
Entre as 15:30 até as 20:22 peguei o que não me pertencia, rompi sem direitos e realoquei tudo segundo meus parâmetros. Estruturei aos meus gostos e interesses. Pincelei e compreendi que o passado relaciona-se diretamente com o presente e em quase 5 horas, construí um B.R.A.S.I.L.
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