Bienal no Rio

Victoria Silvestre
Iandé
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4 min readApr 16, 2018

A minha experiência estética é sobre uma viagem que fiz enquanto ainda estava na escola. A cada dois anos meu colégio participava de uma Bienal de artes de vários colégios jesuítas pelo Brasil, e no ano que eu fui, o colégio que nos recepcionou foi no Rio de Janeiro. Só algumas pessoas foram selecionadas para ir, era possível ser escolhido para ir representando Artes, Música, Dança ou Teatro. Eu fui por artes, minha amiga que também queria ir acabou fazendo aulas de teatro para ser escolhida, mesmo não gostando de palcos.

Foi a melhor pior viagem da minha vida até o momento. Enquanto estávamos viajando no ônibus, eu estava mexendo no meu celular, e minha amiga decidiu me bater com o travesseiro, como meu celular estava entre o travesseiro e eu, ele voou na minha boca, que ficou mega inchada durante a semana toda. Em todas as fotos tiradas lá, eu tenho algo na frente da boca.

Foto escondendo a boca

A comida era tão ruim que nossa professora saiu escondida para comprar algo para a gente comer, estava muito calor e não podíamos usar shorts, algumas pessoas passaram mal, o chuveiro era igual aquelas torneiras que você tem que ficar apertando porque elas param de escorrer água e não tinha água quente, a gente dormia no chão, e fora isso, logo no primeiro dia minha lente caiu e foi embora pelo ralo, e eu não tinha levado outra. Passei a viagem enxergando de um olho só.
Cada colégio tinha que preparar uma apresentação, então o pessoal de artes ficou encarregado de fazer os cenários. No dia da apresentação tínhamos que buscar todos os cenários em uma sala que ficava no 4º andar, só tinha escada, e eu estava MORRENDO de cólica carregando cenários pesados para baixo.
Embora tudo isso tenha acontecido (e mais algumas muitas coisas), foi uma experiência muito boa para mim. Ficamos lá durante uma semana, e a cada dia novo era sempre uma surpresa o que iríamos fazer, a gente tomava café e ia para uma quadra, onde sorteavam as nossas atividades do dia, que poderiam ser muitas.

No primeiro dia, eu fui sorteada para improvisação de teatro, sem ninguém que eu conhecia junto. Tímida do jeito que eu sou, basicamente fiquei muda, e quase não falei com ninguém. Eu e minhas amigas começamos a achar que tinha sido um erro ir para lá. No segundo dia: percussão corporal. Nessa atividade eu já estava bem mais solta do que na primeira, e comecei a conversar com as pessoas. No terceiro dia: Escultura com arame. No quarto dia, eu nem lembrava mais que o chuveiro era ruim, que dormíamos no chão, que estava enxergando com um olho só e com a boca inchada. Era artes, música, dança, teatro e diversas exposições o tempo todo. Nunca em nenhum outro momento fiquei tão imersa no mundo das artes como nessa viagem. A gente conseguiu esquecer de todos os problemas que tínhamos ali e realmente se envolver nas atividades de uma forma muito intensa. A gente respirava arte.
No meio disso tudo, cuidando dos cenários, eu ficava atras das coxias o tempo todo, e ajudava os bailarinos a se trocarem. Eu era bailarina, e tinha desistido a alguns anos, mas depois dessa experiência e de conviver com os bailarinos ali e ficar atras do palco, eu lembrei de como amava aquilo. Quando voltei para São Paulo, voltei a procurar um studio de Ballet, e danço até hoje.
No final, foi uma experiência muito importante para mim, o ponto negativo foi que logo iriamos nos formar e não teríamos essa oportunidade novamente.

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