Cegueira Temporal —

— ou como a predisposição para certas percepções pode acabar por inviabilizar outras

Por Rafael Araújo de Castro

A chamada “cegueira temporal” é um traço característico comum na experiência de muitos daqueles cuja configuração neurológica é particularmente enquadrada pela psiquiatria sob a denominação de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Boa parte das pessoas que se entendem como tendo TDAH conhece bem a dificuldade presente em tentar visualizar a passagem do tempo e se planejar de acordo com esta —para mim, por exemplo, essa é uma inconveniência recorrente.

De certa forma, eu poderia dizer que minha curiosidade exacerbada em relação àquilo que percebo, isto é, minha predisposição à pratica da introspecção e da intensa observação das minhas experiências, ainda que seja uma tendência muito satisfatória e importante para mim (afinal, é a única forma que conheço de testemunhar a vida, o único modo através do qual sei ser), também vem com seus empecilhos.

Ultimamente em específico, minha noção do tempo, seja ele o agora, o essa semana, ou o esse mês, tem ficado um tanto quanto turva. Mas acho que faz parte. Enfim, tendo contextualizado o título, discorrido sobre o assunto dessa publicação, e me localizado perante o mesmo, vamos ao que importa:

A ilustração/pintura abaixo expressa meu entendimento em relação às formas através das quais essa “cegueira temporal” me é inconveniente.
Basicamente, a silhueta representada na imagem é anestesiada de sua noção temporal devido à abundância de introspecções que a envolve, simbolizada por recortes de imagens geradas por inteligências artificiais.

Imagens essas,
criadas por linhas de código que produzem, ou melhor, reproduzem imagens a partir da multiplicidade daquelas que de fato foram produzidas/captadas autenticamente por observadores reais.¹
Imagens, portanto, empregadas por mim na ilustração abaixo para representar introspecções, em virtude tanto da ausência de autoria destas, quanto de seu caráter quimérico e coletivo, aspectos esses que me levam a atrelar a elas valor simbólico associado ao inconsciente coletivo.)

¹- De acordo com o que absorvi durante meu último módulo de Análise da Imagem.

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A experiência estética é uma sensação altamente subjetiva, tornando a realidade mais plena, dando novo sentido e significado às coisas, nos mostrando diferentes perspectivas sobre a própria realidade. Ela também, nos permite alterar a vivência do tempo nos conduzindo à um estado de esquecimento de nós mesmos, pois, se estamos muito envolvidos naquele determinado momento, não pensamos em nós, nem mesmo no tempo que nos absorve.