Choque de Culturas

Olá, meu nome é Lucas Choe, eu sou descendente de coreanos, porém nasci aqui no Brasil, em São Paulo. E desde o meu nascimento tive uma educação bem rígida pelos meus pais, e suas culturas

Lucas Choe
Iandé
4 min readJun 11, 2022

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Mas ao longo do tempo fui crescendo e convivendo com outras pessoas, outros costumes, outras culturas, e até outras culinárias, que divergem muito da minha raiz. Com o tempo fui percebendo os conflitos da minha identidade cultural, pois convivia com duas culturas extremamente diferentes. Um exemplo básico: na cultura coreana é falta de respeito você olhar nos olhos de um mais velho enquanto ele fala. Porém, na cultura brasileira é falta de respeito as pessoas não olharem nos olhos enquanto falam.

Dentre todas as diferenças culturais que eu estava enfrentando, um dos mais absurdos que eu nunca entendi direito foi a dos meus pais. No qual eles sempre ressaltavam que eu tinha que me casar com uma coreana no futuro, de que coreanos só dão certos entre eles, de que a relação com quaisquer outras etnias resultaria em um fracasso. E fui percebendo que não era somente os meus pais que possuíam esta opinião, mas sim a grande maioria dos coreanos com a faixa etária deles.

Esta “proibição” de relacionamentos com outras etnias foi tão implementada pela geração mais velha, que acabou se tornando um tabu, e afetando muito nas opiniões da geração dos meus pais. Tanto que até recentemente eu nunca tinha comentado nada sobre os meus relacionamentos com meus pais, por medo de julgamento, e de restrições da minha liberdade. Mas, com o tempo fui martelando e insistindo com os meus pais sobre a compreensão dos relacionamentos com outras etnias, de que no amor não há fronteiras, e queria esclarecer o máximo possível para eles. Já perdi as contas de quantas brigas e discussões tivemos por causa disso.

Foi se passando o tempo, e há 2 anos, no final de 2019, eu comecei a namorar. Ela é brasileira, nascida em Cuiabá, Mato Grosso, com inúmeras ascendências, assim como a maioria da população brasileira. Com olhos grandes cor de mel e tom de cabelos mais castanhos para ruivo — totalmente diferente da estética coreana. Me apaixonei por ela, e tive a certeza de que era ela a garota com quem eu iria me casar.

Porém, com o início do meu relacionamento, vieram as minhas preocupações sobre as opiniões dos meus pais. Pois até então eu nunca tinha contado para eles sobre meus relacionamentos — por medo, e desaprovação. Mas com ela era diferente, ela me fazia me sentir mais forte, de que tudo era possível estando ao lado dela, e ela foi a primeira pessoa a me fazer sentir vontade de enfrentar os meus medos sobre meus pais.

Então, com muita delicadeza eu fui dar a notícia sobre o meu relacionamento com a minha namorada, sempre esclarecendo de que era um relacionamento sério, e que minhas intenções não eram superficiais, e sim com intuito de viver com ela pelo resto da minha vida. No começo meus pais não me levavam a sério, achavam que era só um namorico, de que iria terminar logo. Mas foi passando tempo, semanas, meses, e depois anos, e eles se deram conta de que não era mais brincadeira, de que eu estava realmente sério com ela. Então, foi surgindo mais confiança e abertura para conhecer melhor a minha namorada.

De pouco a pouco eles estavam cada vez mais sendo flexíveis sobre o meu relacionamento, comparado com o começo quando eles mal me deixavam ir vê-la. Até que com muito sangue, suor, e lágrimas, chegou o dia em que neste ano de 2022 eu consegui fazer o que antes eu nunca teria conseguido: levei a minha namorada para conhecer toda a minha família, TODA a família, dos mais novos até os mais velhos. E, surpreendentemente, eles foram bem receptivos com a minha namorada, eles conversaram, sorriram, fizeram piadas de tiozão, e uma das minhas tias até deu um beijo na cabeça dela.

Concluindo, sinto que se eu nunca tivesse conhecido a minha namorada, até hoje eu teria medo da opinião dos meus pais, eu ainda seria refém da implementação do tabu interracial da comunidade coreana arcaica. Mas, vi que com a pessoa certa, e não desistindo nunca, tudo isso pode mudar, que padrões podem ser quebrados, e o impossível pode se tornar possível. E estamos até hoje firmes e fortes, com quase 3 anos de namoro agora.

Fotos com a minha família, todos juntos

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