Experiências que transformam

Isabelle Gomez
Iandé
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4 min readApr 6, 2018

Cinco meses na Austrália que passaram voando e eu não paro de pensar que 1/3 do meu intercâmbio escapou de mim. É como quando a gente pega um punhado d’água com as mãos, e temos a certeza de que a água toda irá escorrer, a não ser que façamos algo com ela o quanto antes. O intercâmbio é do mesmo jeito, no começo você fica atordoado e o primeiro mês passa voando; o segundo você fica dividido entre estudar e viajar; o terceiro é estudar com cabeça nas viagens; e o quarto é estudar achando que estaria viajando; o quinto é viajando. O mais importante foi ter aproveitado e vivido aquela experiência. Quando você vê, passaram-se cinco meses. Você perdeu uma parte considerável do que possuia, mas sabe que o que importa é o que ainda te resta, e o que de importante você vai fazer dessa última parte. Não adianta sofrer por antecipação. Sempre admirando as memórias e as diferenças.

Então, deixo aqui um relato que fiz três anos atrás no meu intercâmbio. Espero que possam compreender o quanto essa experiência é maravilhosa.

Ser intercambista é criar uma vida inteira novinha em folha. É nascer de novo e poder interpretar qualquer personagem. Ser intercambista é não se importar em ficar um dia sem banho ou sem janta. É ganhar uns bons quilos a mais, mas quem se importa? É sentir tudo mais amplo e intenso. Ser intercambista é transformar um probleminha num problemão. E resolver os desafios que a vida coloca na nossa frente com caráter. É ter sinceridade, é a vontade de ser melhor. É se olhar no espelho a cada dia e perceber que muita coisa mudou. Por dentro também. Aliás, a maior mudança é a interna. Ser intercambista é aprender a ser gentil. É ganhar uma nova melhor amiga, ou várias melhores amigas. É perder a vergonha. Ser intercambista é não se importar em dormir desconfortavelmente, desde que isso signifique ter lugar pra mais um. Ser intercambista é olhar pra trás e sentir medo, porque a velha vida não encaixa mais. Não faz mais sentido. Dá pra ficar pra sempre? É a vontade de trazer a família pra perto. É lembrar de um cheiro e chorar. Lembrar de um sorriso e chorar. E chorar sem motivo. É a maravilha de ficar longe de tudo e todos. É recomeçar. É dar valor ao dinheiro e à comida. É estranhar os pratos típicos do país anfitrião e ter um estoque de doces na mochila. É o valor da amizade. É a necessidade de um ombro amigo, um colo, um pouquinho de compreensão. É viver no aeroporto, e odiar despedidas. Ser intercambista é sentir tanto, que às vezes se faz necessário sentar um pouco pra organizar o lado de dentro. É mudar de casa e de alma. Ter fome de mundo, cultura e informação. É querer desacelerar, mas também amar a velocidade. É botar uma muda de roupa na mochila e dizer “estou indo”. Ser intercambista é nunca parar de ir. De partir. Nunca parar de chegar e aprender. E o melhor de tudo? Nunca saber onde e como tudo isso vai acabar. Ser intercambista é esse exato momento em que eu me encontro agora: sentada na minha cama, de banho tomado e pijama, me sentindo em casa. Do outro lado do mundo.

Isabelle Gomez aluna de Publicidade e Propaganda, 3 semestre, Faap.

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