CLAUSTRO
Por Bruna Lima dos Santos
…e de repente, nos encontramos frente à uma nova realidade em que o isolamento social faz-se presente como uma necessidade. Viver enclausurado dentro de casa torna-se rotina, assim como o questionamento sobre o claustro da alma e a crescente angústia causada pela solidão.
Há tempos me sinto enclausurada dentro de mim,
presa à agonia dos meus pensamentos.
Talvez eu não tivesse a maturidade para perceber o quão livre eu estava
diante da realidade rotineira que me sufocava.
Mas mesmo estando livre,
permeava-me a sensação de que a liberdade não fazia jus a tal significado.
Encontro-me apática a tudo e a todos.
Eu estava livre para ser eu no meu eterno vazio,
mas não fui.
Eu achei que poderia segurar a realidade em minhas mãos,
até que ela escorre por entre os meus dedos e é arrancada de mim.
Eu sabia que nada permanece além da mudança.
Apesar disso, eu não estava pronta.
Encontrava-me surpresa,
bestificada pela situação ao meu redor.
A peste maculava os ares
e levava consigo a realidade em que todos estavam habituados,
não só a mim.
Hoje, enclausurada dentro e fora de mim,
sinto que este dilúvio de solidão ocupa mais da minha vida do que deveria.
Com o caos instaurado por fora das paredes do meu quarto,
vejo a luz invadi-lo por meio das pérgolas
e reparo em como a luz inside delicadamente em cada canto.
Estendo a minha mão tentando manusea-la e trazendo-a pra dentro de mim.
Vejo florescer a saciação da minha agonia;
Vejo se esvair o medo que se fazia presente.
Então desabrochei.
Desabrochei tal como uma rosa que desabrocha para não morrer,
pois reter é perecer.
A partir de então,
Tenho dançado a dança do infinito e voado livre,
buscando a luz da liberdade.
Bruna Lima dos Santos |Cinema — FAAP | 2020