ComCiência

Ana Carolina C. do Monte
Iandé
Published in
3 min readApr 22, 2018

O que seria uma experiência estética? Para mim, seria uma experiência tocante tanto em forma quanto em conteúdo. Alguma coisa linda por si só, mas que também traga possibilidades de interpretação bonitas.

“A confortadora”. Mesmo sendo completamente diferentes, a garota conforta a criatura sem forma definida em seus braços como a um filho ou a um irmão menor.

Para mim, a exposição ComPensar, com obras de Patricia Piccinini, a qual visitei no CCBB há alguns anos, é a primeira coisa que vem à mente. Com suas obras, Patricia nos propõe a pensar sobre a ética humana com relação a seres criados em laboratório e/ou a partir de manipulação genética para atender nossas necessidades e desejos, e como os nossos sentimentos influenciariam em nossa relação para com essas criaturas. Elas também nos fazem questionar o que, afinal, é algo belo, e o que seria considerado algo “normal”.

“O visitante”. O pavão, criatura cuja seleção natural a deixou viver apenas por sua beleza, causa um contraste com a criatura estranha que, à primeira vista, parece ser isenta de beleza. A criança, ao contrário de nós, não sente medo algum — há puro encanto em seus olhos. Ela enxerga a beleza dele. Ficamos, então, divididos entre temer pela garota ou adotar o seu olhar.

As criaturas de Piccinini são uma fonte de desconforto e inquietude para quem primeiramente as vê, mas, por mais incrível que pareça, são uma fonte de conforto e extrema confiança para os personagens com quem interagem. A primeira impressão de repulsa que o espectador pode ter é gradualmente substituída por uma curiosidade, e vamos, aos poucos, nos deixando afeiçoar pelos estranhos seres.

“O tão esperado”. Nas palavras de Chico Garcia, “Permitir que seu sono seja velado é a maior prova de confiança. (…) É preciso conhecer quem dorme ao lado”. Embora Garcia se referisse a uma relação romântica, creio que a frase também se aplica na relação de fraternidade que parecem ter o garoto e a criatura.

As obras de Patricia Piccinini são criaturas reais em seu próprio universo. É quase possível vê-las se mexer lentamente conforme sua respiração, ou sentir as dobras da pele ao imaginar o toque. Isso contribui para o realce das sensações que elas podem provocar nos espectadores, tanto negativas como positivas. Tudo é sentido intensamente.

“Flor Bota”. Uma bota que virou um híbrido de planta e um mamífero, mas que põe ovos. As plantas ao fundo têm formato de ovários.

Essas obras podem não ser agradáveis ao olhar de todos, mas são certamente intrigantes. São obras que nos fazem pensar e sentir, seja coisas boas como coisas ruins. Por parecerem ganhar vida, elas acabam sendo lindas de um jeito ou de outro, visto que toda vida tem algo de belo. Mesmo sendo difícil definir exatamente o que é uma experiência estética, mergulhar no universo das criaturas de Patricia Piccinini é, sem dúvida, uma delas.

Caso tenha interesse em saber mais sobre a exposição do CCBB(que, infelizmente, não está mais ocorrendo) e em conhecer melhor as obras de Patricia Piccinini, visite o site da exposição do CCBB e o site da artista, abaixo:

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