Paloma G
Iandé
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3 min readNov 24, 2019

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Como definir casa?

Como definir casa?

Eu sempre quis sair da minha. Eu amava muito aquele lugar, aquelas pessoas mas eu sabia que o mundo era muito maior que aquilo. E talvez por ter sempre a cabeça em mundos imaginários ou por simples curiosidade infantil, eu sempre quis ir conhecer e viver mais do que a minha cidade. Então ao mesmo tempo em que celebrava os momentos lá, eu queria sair. E por isso me achei preparada pra ir embora.

Grande engano.

Quando tive a oportunidade de sair e realmente fui, percebi o quanto me equivoquei. Quanto eu não estava preparada pra deixar o que eu conhecia pra trás. E, mesmo que fosse para um lugar mais próximo do que o que havia ido antes, era mais permanente. E percebi que o quanto a minha pretensa imunidade às ruas e lugares onde cresci era falsa. E quanto eu era apegada àquilo tudo.

Doeu muito mais do que eu imaginei – dói. Os encontros e possibilidades que deixei pra trás fazem falta. E cada vez que um amigx precisa de consolo e eu não consigo estar lá, dói. Perceber o quanto o meu irmão cresceu sem que eu ver, dói. Não fazer parte do cotidiano de algumas das pessoas mais importantes da minha vida dói. Perceber que o meu lugar comum, o lugar que se embrenhou e se tornou personagem minhas memórias não é mais o palco principal da minha vida, dói. E dói porque é mais do que apenas esquinas, é toda a minha história, são locais que se tornaram refúgios, são vidas compartilhadas, é a minha casa que de repente não é toda a minha casa.

Então ‘casa’ agora é um conceito confuso para mim. Existe o lugar em que eu cresci, em que me sinto confortável, que eu conheço e amo e sinto saudade. Mas agora existe o lugar que eu moro, lugar pelo o qual me apaixonei e no qual crio novas memórias. Lugar que eu pude escolher. O lugar em que dezenas de outras possibilidades se abrem e que por mais que me seja estranho, não é tão estranho assim. Eu o conheço. Não tenho 20 anos de lembranças atreladas a cada esquina da daqui, mas tenho memórias e laços com cada canto que conheci, e tenho amigxs tão maravilhosxs quanto os antigxs (e tão presentes) e tão importantes quanto.

E se agora eu não estou tão perto para compartilhar tudo com o pessoal do Rio, eu e elxs ainda acompanhamos e comemoramos cada conquista. Falamos por vídeo, tentamos mandar mensagem e por mais que sejamos ruins nisso, a amizade se mantém e é isso que importa. É a mesma coisa? Não. Mas a gente se esforça e a gente se ama e cada um está crescendo na cidade em que está. E quando um precisa do outro, a distância é de um telefonema. E quando a gente se encontra, o tempo é ainda mais precioso.

Onde estou, eu estou crescendo, aqui eu estou criando novas memórias e conhecendo pessoas tão incríveis que nem consigo descrever, aqui eu estou ressignificando casa. E cada vez que eu sinto falta de ar em lembrar do mar nos meus pés, da areia escaldante e o riso dos meus amigxs, eu paro. E inspiro, expiro, e inspiro de novo. E me lembro dos karaokês, das risadas, dos rolês de terça e das viradas de noite terminando trabalhos, lembro dos brigadeiros e dos abraços e dos desabafos. E percebo, apesar de ainda doer, que não estou tão longe da minha casa assim, eu estou apenas ampliando essa palavra.

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