“Como posso segurar alguém por mais de dois segundos?’’

por Mariana Rosim

Mariana Rosim
Iandé
4 min readMay 31, 2020

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Catherine Opie

Em um percurso de mais de trinta anos de carreira, a influente fotógrafa contemporânea Catherine Opie, obteve excelência em seu trabalho de observar camadas sociais concentrando-se em grupos singulares e representativos, como jogadores de futebol do ensino médio, participantes de couro da S&M e comunidades LGBT.

Nascida em Sandusky, Ohio, em 1961, Opie foi apresentada ao universo fotográfico com a descoberta do fotógrafo Lewis Hine e sua documentação de trabalho infantil na virada do século XX. Quando completou nove anos, a artista ganha sua primeira máquina fotográfica e inicia seus registros, exibindo seu fascínio pela comunidade que perdura até os dias de hoje.

Catherine Opie realiza enfáticas obras que possuem como núcleo a protagonização LGBTQIA+, tornando a fotógrafa conhecida principalmente por seus retratos das comunidades lésbicas, e fazem-se presentes em diversas exibições como Hide and Seek: Difference and Desire in American Portraiture, que tomou lugar na National Portrait Gallery em Washington no ano de 2010; e também séries como ‘’Being and Having’’ (1991) e ‘’Portraits’’ (1993–97), que misturam fotografia tradicional com assuntos menos tradicionais.

Auto-retrato/ ''Cutting'' (1993)

Ao longo de sua carreira, o auto-retrato foi útil como um marcador de desenvolvimento artístico e pessoal, uma espécie de lembrete que a fotógrafa não se destaca dos grupos que documenta. Nestas imagens, Opie apresenta algo profundamente pessoal, que chegam a atingir um nível de confissão, que revelam anseios e preocupações contemporâneas da comunidade queer, e em muitas fotos, acentuados pela vulnerabilidade física dos atos sadomasoquistas que as obras documentam.

Entretanto, apesar de seu trabalho tenha se tornado sinônimo de documentar a cultura Dyke, seu trabalho é abrangente. A artista mostra que não possui uma identidade singular, e que mantém sua atenção em objetos além de sua identidade queer, e portanto, sempre tenta atingir uma posição de qualidade, em termos de democracia fotográfica.

‘’Rusty’’ (2008)

No processo de conhecimento e compreensão do trabalho de Catherine Opie, fica evidente sua marcante abordagem do conceito de beleza, e suas várias maneiras de defini-lo, e o potencial que cada corpo, cultura, comunidade e identidade podem ter.

Trata-se de entender o ‘’outro’’ como belo, mesmo que não siga os padrões rígidos sociais, e da profundidade que a beleza pode adotar, assim performa-se uma fuga do superficial. Sob o olhar da câmera da fotógrafa, pode-se notar uma vulnerabilidade ao mesmo tempo individual e coletiva, como se grandes barreiras construídas por aqueles que não poderiam entender a diversidade como um senso de união — muito semelhante as segregações que podem existir em uma única comunidade — foram derrubadas e abriram espaço para o cru daquele que é o objeto da foto, também como várias interpretações de beleza.

Nas palavras de Opie para a CNN Style, “para mim, a beleza tem que abranger mais sobre a condição humana e os tempos em que vivemos’’, portanto, o respeito da artista à linha do tempo da vida e o conceito de identidade do ser humano é muito presente para a mesma, o que torna seus projetos únicos e pertinentes.

Acompanhar as vertentes e nuances de Catherine foi essencial para o desenrolar do meu ser, capaz de expandir meus horizontes e tomo para mim hoje um pensamento crítico e multidimensional. Suas palavras e imagens descobrem emoções toda vez que tenho a experiência de estar de frente com sua arte impactante. Acredito na arte que nos trata de qualquer forma, sempre retorno para aquilo que um dia me trouxe.

Concluo, portanto, a importância de artistas como Catherine Opie nos dias de hoje, pois tal forma de expressão torna-se uma forma de resposta a pressões para categorizações rígidas existentes no mundo atual, para que essa pluralidade e busca por compreensão das diversas camadas de um indivíduo, assim como o ato de reconhecer o ‘’outro’’ e o espaço do mesmo no mundo, através do olhar de uma artista que, por suas fotografias, pretende segurar alguém por pelo menos três segundos.

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Iandé
Iandé

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Experiência Estética: A expressão de uma experiência vivida. Criações dos alunos da disciplina Estética ministrada pela professora Edilamar Galvão no 3o semestre dos cursos de Cinema, Cinema de Animação, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio e TV e Relações Públicas da FAAP