Conexões
Nunca realmente entendi ou amei ir em shows. Eu ia, apreciava a música ao vivo, mas acabava ficando com um pensamento atrás da cabeça de que poderia ouvir as mesmas músicas no conforto da minha casa, sem ter que ficar em pé com pessoas de 1,80 na sua frente tampando a pouca visão que se tem do palco. A sensação que ficava ao final geralmente era de que estava pagando demais por uma experiência que não me retornava tanto, jurando aprender com isso e dar uma evitada nas idas ao mesmo tipo de evento. Sorte que sou teimoso e sempre dou uma nova chance.
Em uma loucura minha, apoiado pela presença de uma das minhas bandas favoritas no sábado, Pearl Jam, fui à edição de 2018 do festival Lollapalooza, sendo então provado errado. O clima do festival logo na entrada me arrebatou, me equalizando ao clima de pura música e harmonia. Algo diferente estava acontecendo. Bandas como The National me permitiram sentar no gramado com um copo de cerveja na mão e refletir sobre as canções e de como elas ressoam comigo, me aquecendo para o grande nome da noite de sábado.
Assim, quando Eddie Vedder e o outros integrantes do Pearl Jam chegaram, eu estava pronto, e imediatamente eles mostraram a paixão que tem pela arte deles e pelo público que os acompanhava na noite. Logo eles começaram a tocar um sucesso após o outro, numa playlist que priorizava as músicas mais agitadas deles, não esquecendo de tocar com toda emoção nas músicas mais sofridas, como Black e Sirens. Frequentemente paravam o show para bater um papo com o público, chamar atenção para problemas como o controle de armas dos Estados Unidos, e em todos os seus trejeitos, em todas as suas falas, a mesma paixão continuava a ser exibida, a mesma conexão genuína que por momentos fazia um jovem no meio de milhares de pessoas se sentir num papo privado com um dos artistas que mais admira.
E foi aí que eu entendi, nesses singelos momentos de conexão, que era justamente isso que a estética, a arte e a vida eram para mim: perceber e conectar-se. Perceber o que é importante para você e buscar conectar-se a isto, seja numa conversa de bar com um amigo, no cinema com sua namorada, na igreja com sua família, sozinho em um festival. E assim, descobrindo o que esse universo era, pude descobrir as coisas importantes que davam significado a ele, já que não há um inerente: Arte. Beleza. Amor. Verdade.
Conexão.
Livrando-me do peso desta pergunta que sempre pesou nos meus ombros, conectei-me ao homem cantando com todo o fôlego na distância. Conectei-me com a multidão ao meu lado, permitindo-me pular, e cantar, e gritar, e sentir, e ser e deixar de ser ao mesmo momento. Conectei-me e vivi. Conectei-me e amei. Conectei-me e sonhei.
Foi um bom dia. Foi uma experiência incrível.
Agora eu entendo.
‘’I know I was born and I know that I’ll die
The in between is mine
I am mine'' — Pearl Jam — I Am Mine