Tatiana Tiemi Akashi
Iandé
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2 min readOct 23, 2018

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Nesses período da eleição para o segundo turno presidenciável, minha experiência estética foi sair todos os dias com o adesivo do candidato Fernando Haddad em meu peito, que originou esse poema-desabafo.

Foto do ato #ELENÃO no Largo da Batata, em São Paulo. (CRÉDITOS: Gabril Henrique)

DA CABEÇA AOS PÉS

esses dias fui dormir

nessa conjuntura de tragédia anunciada, acordei e o desespero foi perceber

o pesadelo não estava no sonho, nada! aquilo era a realidade.

meu peito apertou e precisava agir

eu, que me achei na luta, não podia ficar parada ali

no lugar daquela agonia, coloquei um adesivo

tal qual curativo de criança que menos cura e remenda aquele eu em pedaços,

e mais chama atenção para a experiência vivida

como um choro indiscreto da dor sofrida, na busca sincera de uma acolhida

acolhida? pfff…

olhares rancorosos, palavras de ódio:

“vem cá gatinha que eu te mostro o candidato certo!”

“feia e burra tinha que votar no PT!”

“PUTINHA DO HADDAD!”

para! é muita coisa, preciso respirar

nesse metrô lotado vou colocar uma música pra tocar

“eu sou, eu sou, eu sou…”

empurrada no metrô, o esbarrão da intolerância

puta, vadia, aborteira, bandida

mau amada, mau comida!

eu? eu que tô nessa campanha pelo direito de amar?

calma aí, meu amigo, eu só queria conversar!

mas eu não posso, não podemos

afinal, se você concorda que “tinham que ter matado uns 30 mil”

o que é uma a mais, ou a menos?

e olha só, importante colocar:

se me xingam assim, eu, branca, na linha amarela

imagina o que não estão fazendo com a negra na favela?

você diz que é liberdade de expressão

mas qual a liberdade? se você me fala com uma arma na mão!

não mascare de antipetismo o fascismo que mora aí

seu ódio não é contra um partido, é contra o meu direito de existir!

e antes que me acusem, que “tá fora de contexto”

essa é a história da minha vida, e dela eu conheço

o meu corpo é essa história

a que você pretende violar, violentar, invadir

mas sinto muito, eu já me ocupei inteira

porque dentro de mim habitam

aquelas que você mandou prender, torturar, matar

Dandara, Amelinha, Maria da Penha, Marielle

no meu peito: presentes!

e muitas outras de nós

que me receberam nessa caminhada com sorrisos, afetos, cumplicidade

vivências que só nos são permitidas no diálogo

na empatia

no olhar no olho quando se levanta a cabeça das mentiras pagas do whatssap

o seu ódio não me dá medo

ele me dá coragem

porque se meu corpo é a história que pretendo

para o meu país

ele estará, todos os dias

construindo a resistência e a democracia

e o tiro que você dispara na minha direção

sairá pela culatra

pois você não atira só em mim

mas naquilo que me habita:

sou multidão!

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