Desapego

Brenda Krishna Rodrigues
Iandé
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2 min readNov 18, 2019

Quando foi proposto o trabalho da experiência estética eu não fazia a menor ideia de qual seria a minha experiência. Nesse meio tempo, pessoalmente estava passando pelo processo de não saber quem eu sou. Durante as sessões de terapia minha psicóloga me disse que pra me encontrar eu precisava me desvincular da Brenda do passado, que era a filha, a adolescente que morava com os pais, e entender quem é a Brenda hoje, de 25 anos, prestes a se casar. Eu estava morando com meus amigos em uma república e precisava organizar minha mudança para a casa nova, onde vou morar com meu futuro marido, e meu quarto estava entulhado de coisas, mil coisas que acumulei ao longo desses 5 anos vivendo como a jovem solteira que sofreu aos 20 anos com a separação dos pais e morte das avós. Com esse cenário de uma mudança prevista, uma casa onde vou dividir a vida com outra pessoa, eu vi a necessidade de desapegar das minhas coisas que me ligavam a Brenda filha e ao começar esse projeto vi a chance de também trazer essa experiência para o trabalho proposto. A principio fiquei extremamente empolgada. Já li diversos relatos de desapego, daquele estilo de vida minimalista que hoje é tendência entre os jovens da minha idade e etc, e parecia muito fácil.

“Vamos nessa!”

Mas não foi fácil. Hoje foi o último dia da mudança, e que processo doloroso. Passei por diversas crises nesse caminho. Joguei fora coisas com lágrimas, tive que parar em diversos momentos porque me senti mais perdida do que quando comecei. A sensação de que estava perdendo quem eu sou foi tão grande que parecia abrir um buraco no meu peito. O que nos leva a acreditar que nossa história está realmente atrelada a um objeto material? Meu noivo me disse uma coisa que me ajudou muito “Não é porque tá indo embora que você vai se esquecer do que viveu naquele tempo, tudo tá guardado dentro de você e faz parte de quem você é”.

No fim das contas, é isso mesmo, a nossa memória é o bem mais precioso que merece ser guardado, afinal é nela que estão as histórias, os sentimentos, as lembranças tão queridas.

Eu ainda não sei quem sou de verdade, minha sala tá um caos, assim como meu coração nesse momento de euforia pelo casamento a vista, confusão pela mudança de rotina e novo ambiente onde me encontro, mas sei que uma hora vai, quem sabe quando meu sofá chegar e eu tiver mais um objeto pra me apegar?

foto meramente ilustrativa da minha sala caótica :)

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