Despertar

Por Mariana Lanzuolo Veiga

Mariana Veiga
Iandé
4 min readOct 26, 2019

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Receber o diagnóstico de uma doença grave é algo que não esperamos, e essa foi minha experiência estética que venho contar aqui. Primeiramente, minha vida até o dia em que recebi a notícia, era de uma jovem saudável, com 17 para 18 anos, ansiosa, muito apegada a família, sempre pensando que não era capaz ou suficiente para fazer as coisas sozinha, e muito apegada emocionalmente.

Duas semanas antes de completar 18 anos, eu recebi a notícia dos meus pais que estava com um tumor raro no pâncreas e que deveria operar o mais rápido possível, pois estava se tornando maligno. Dois dias após meu aniversário fui internada no hospital, muito em transe pela situação, não sabia exatamente o que estava acontecendo ali e a gravidade do diagnóstico. Ao entrar na cirurgia era prevista uma operação de 6 horas, porém houveram problemas e a cirurgia durou 18 horas. Esse foi só o começo de uma jornada que durou em torno de 6 meses; 32 dias correndo maior risco de vida e cinco meses me recuperando. Esses dias em que passei na UTI, semi-intensiva e no quarto, senti que foram mais longos do que os dezoito anos que vivi até então. Eu, uma menina que me achava muito sensível e de certa forma fraca para enfrentar as coisas, me vi sozinha na cama de um hospital, entre a vida e a morte.

A minha mente foi minha grande aliada nessa jornada. No decorrer dos 6 meses aconteceram muitas coisas como; infecção, água no pulmão, 4 cirurgias, ganhei 11kg pelo inchaço e emagreci 23kg no decorrer do tratamento, e por aí vai… mas um momento que me marcou muito foi logo após a primeira cirurgia. Sai após as 18 horas de operação muito debilitada e fui encaminhada para a UTI, um dia depois decidiram que eu iria para a semi intensiva como processo convencional das cirurgias. Ao chegar na semi intensiva, após algumas horas, minha pressão foi baixando até que certo momento ela chegou a 7 e continuava a baixar, nesse instante mais de oito médicos e enfermeiros que eu nunca havia visto antes estavam a minha volta conversando, preocupados, e eu sem entender nada, sem a presença da minha família, amigos ou alguém que eu conhecesse, pois não era permitido.

Nesse momento vi a gravidade em que me encontrava. Com respirações calmas e tentando me controlar, chamo uma médica e digo a ela ´´Doutora, eu apenas não queria morrer´´, nesse instante ela me olha com olhos de compaixão e diz ´´Calma, vamos fazer o possível´´. Nesse momento, sozinha, tirando forças de onde eu não imaginava que existiam, pensei, ela disse ´´possível´´, isso quer dizer que tenho possibilidade de sobreviver, e que se ainda há um por cento de chance de eu continuar aqui, posso ser esse um por cento. Foi aí que eu comecei a mudar a minha percepção sobre a vida, sobre a minha força e sobre o poder que a mente tem em nosso corpo.

Fui encaminhada de volta para a UTI para a aplicação de noradrenalina, um remédio usado no controle da pressão sanguínea em determinados estados hipotensivos agudos e como adjuvante no tratamento da parada cardíaca e hipotensão profunda, como se fosse um choque para tentar reviver. Ao acordar horas depois, tive uma sensação emocionante nunca sentida antes por mim, de conquista. Deu certo, eu fui o um por cento que eu acreditei que poderia ser, pois se eu decretasse em minha cabeça que não havia como conseguir vencer a situação, meu corpo adoeceria junto. Mal sabia que aquele era apenas o início de uma jornada de muita dor física e psicológica, cheia de aprendizados, conquistas e superações. Afinal não é fácil suportar as dores, ficar sem dormir, sem andar, sem grandes movimentos, acordar por dias sem saber se amanhã você verá de novo aquelas pessoas que tanto ama e estão ao seu lado com fé, dando tudo para que você possa estar ali com elas.

Recebi presentes, amuletos, incentivos, orações, bênçãos, algumas de pessoas do hospital que eu nem se quer conhecia, porém que se sensibilizaram com a minha história. Além de encontrar João de Deus na UTI, o que foi surpreendente para mim pelo fato de eu ser espírita há 4 anos, tal acontecimento me fez ir a Abadiânia onde é a casa de cura Dom Inácio de Loyola após me recuperar, e onde também vivi experiências inexplicáveis. Muito difícil colocar em palavras o que passei, senti e evolui nesses 6 meses de tratamento intenso, que se prolongam até hoje de forma mais amena, meu olhar sobre as coisas mudou totalmente. Valorizo ainda mais cada passo e respiração que dou, minha família e amigos, cada conversa com pessoas na rua, cada dia de sol ou de chuva, e principalmente mudei a visão que eu tinha sobre mim de menina frágil. Hoje me sinto forte e pronta para enfrentar o que vier pela frente, pois eu sou capaz, nós somos capazes, basta acreditarmos que mesmo tendo um por cento de chance, podemos ser esse um por cento.

Eu na cidade de Abadiânia após receber alta

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