Dia 9 de Outubro de 2018

Fernanda Bassani
Iandé
Published in
3 min readOct 16, 2018

Quando eu tinha uns 13 anos de idade, eu decidi gostar de rock. Eu achava que era legal e meu irmão e meus amigos gostavam, então eu devia gostar também. Então eu comecei a pesquisar muitas bandas, tipo Metallica, System of a Down, etc. Entre elas eu descobri o Pink Floyd.

Passado alguns anos, quando eu estava no segundo ano do colegial, eu decidi fazer cinema. E como eu gostava muito de história, eu decidi ver alguns filmes sobre o assunto. Eu vi o Pianista, vi Amadeus, vi Doutor Jivago. E acabei descobrindo o filme The Wall.

The Wall sempre foi um filme e um álbum muito marcante para mim. Ele conta a história de Pink, que perdeu o pai para nazistas e desde pequeno foi abusado pelos professores totalitários e sufocado pela proteção constante da mãe. Quando ele cresce, ele se torna um astro do rock que depende muito das drogas e é violento. A parede que eles se referem no nome do album, é uma parede imaginária que serve para isolar Pink do mundo a sua volta, sendo cada um desses traumas “um tijolo na parede”. No auge de sua crise de isolamento, Pink tem uma alucinação onde se imagina ser um ditador fascista. O filme retrata muito bem os horrores do fascismo e do discurso dele.

No dia 9 de outubro de 2018, eu fui no show do Roger Waters no Allianz Parque. O país estando em época de eleição, com um candidato que apoia a tortura e a ditadura concorrendo, e com o histórico do Roger Waters, eu tinha certeza que ele ia se posicionar. Dito e feito. Depois da música “Another Brick in the Wall”, ele fez uma pausa de 20 minutos.

Nesses 20 minutos, ele colocou na tela a palavra “Resista”, e depois uma lista de coisas que a gente deveria resistir. Ele falou coisas como “Resista ditaduras militares”, “Resista a glorificação da tortura” e “Resista o neofascismo”. Depois disso ele colocou uma lista de países nos quais o neofascismo está ascendendo e os líderes e no final o Brasil com o nome de Bolsonaro. Eu estava com dois amigos e com o meu irmão, e nós gritamos “ELE NÃO” e aplaudimos, enquanto muitas pessoas a nossa volta vaiavam.

Imagem exibida no telão durante o intervalo
Imagem exibida no telão durante o intervalo

Depois, na música “Mother”, ele colocou a hashtag #Elenão, e mais uma vezes gritamos e aplaudimos enquanto muitas pessoas vaiavam, até chegaram a gritar o nome de um certo torturador da ditadura brasileira.

Hashtag exibida durante a música “Mother”

Durante a música “Animals”, ele liberou um porco com as palavras “As crianças não tem culpa”. Ele também fez uma cena, onde ele e os outros músicos da banda usavam máscaras de porco e jantavam. Depois ele pegou uma placa escrita “Pigs rule the world” (“Porcos comandam o mundo”), jogou fora e pegou outra que dizia “Fuck the pigs” (“Fodam-se os porcos”). Tudo isso é uma clara alusão ao livro “Revolução dos Bichos”.

Balão inflável em formato de porco

O show foi marcante por muitos motivos, Roger Waters traz um espetáculo para o palco, é realmente uma obra de arte. Mas ver esse show, gritar e aplaudir, no momento que estamos, foi um ato de resistência.

Eu vi meus amigos chorarem de medo, porém ainda lutarem para serem ouvidos. Saí de la com vontade de lutar pelo que é meu por direito: a liberdade. Eu nunca vou esquecer esse dia.

Fernanda Bassani Simões da Silva

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