DIFUSO

Marina M Letizia
Iandé
Published in
2 min readOct 15, 2018

Dia…(Eu não sei que dia é hoje e nem consigo pensar para saber qual dia poderia ser).

A náusea me corrói e eu me deparo com o mais puro desespero. Escrevo, pois não consigo vomitar. Tento, mas meu organismo parece gozar dos meus desejos. Tenho a percepção de que se o líquido turvo que habita as minhas entranhas, meu pulmão e minha mente saísse pela minha boca, eu me livraria do medo corrosivo que esbalda-se sobre mim.

Tento fechar meus olhos para negar tudo isso, esse momento, mas quando o faço, apenas enfatizo o sentimento abominável que me vitimiza com enorme poder.

Sinto impotência.

Só.

Noto palpitações por toda a minha pele, torço para que elas cessem.

Minha visão é difusa, os elementos se fundem. Imagino que minhas pupilas devam estar se apossando de toda a minha íris.

Quase não enxergo.

Queria poder dormir. Aspiro o impraticável.

O barulho do relógio sincroniza-se com as lembranças do tempo que ainda há de passar. Vejo os objetos como extensões do meu corpo, parecem-me tão vivos.

Ingiro a água que me cerca e sua transparência duvidosa me faz pensar que, talvez,

eu só precise de uma distração.

Ou talvez,

de um… sopro.

Gravura de Ryan Tippery

https://youtu.be/gr03SidSVqI — Vídeo produzido por mim, o qual ilustra, de certa maneira, os golpes de náusea.

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