Dubiamente viver

“As coisas que estão para a aurora, são antes à noite confiadas.”

Igor Toffoli
Iandé
12 min readApr 24, 2019

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Noite! Coisa doida, de verdade. O que a gente não faz, doidamente, à noite… No que a gente não pensa, sozinhos à noite? À noite: coisas inrealizáveis. Noite, nós. Noite primeira; o dia? Eu acabado de chegar na cidade. Chegada escura, nocturna. Dia seguinte era estudo, aula, mas na aquela noitinha: encontro — nossa aproximação… Foi assado. Nós e outros, meninos, antes do vir do sono, à luz da cozinha da pensão. Nem ninguém se conheciam, só alguns-se. Eu ninguém nem: ninguém e você. Rostos, caras, tudo novo, nóvos. Olhei todos. Olhei-te? E. De só bobeiras, conversas foram. Das experiências passadas, do que se ia ser. Mas o que se ia ser de fato ninguém dizia. Ninguém sabia! E quem quis que nós dois, nossos nós, córpos celestes, em rotas fossem corpos-colisão? Bobeiras. Mas foram. Naquela noite. E! Tinha que ser, tinha que ser, tinha que ser: meu destino é te conhecer… Aquela noitinha, nossa. Saudade. Isso. E foi só um comecinho do tudo. O isso — tudo. E? Quê é que é que fez a gente naqueles dias juntinhos morarmos? Foram nossos nomes queridos, ambos de quatro letras? Foram nossas caras de cavalo ovais que, como você diz: “que os tipos todos de cabelos e óculos em encaixam”? Não se saber-se. Mas seu nome tem de, e o meu não tem. Mas! O meu tem do. Igor do Luar. Toma aqui: (eu). Teu mim. Depois. Outra noitinha… Que você, ao ver eu recém chegando em casa, dizeu meu nome: “ô Ígor! Querido… Venha qui!”. E eu fui. E você muito educadamente: “o Igor é artista, olha a blusa dele, amigo…” Artista? Nem quero ser artista não, não usar blusa nem… Mas você sempre muito educadamente, com muitos queridos, me dizendo sempre o mais bonito, o mais que eu gostava de ouvir. E você disse: “Ígor, quê é arte?” — foi a primeira vez que pensei nisso, de arte, confesso. Foi conversa boa, quase uma daquelas, mas extávamos em três, e conversa foi sempre pra ser em dois — não excluindo os outros, meninos, mas só os excluindo por um momentinho só, num às vezes, nosso. Foi a primeira vez que pensei, na vida, confesso. Confesso: você me ensinou o pensar. E pensando agora, acho que já naquela época tínhamos nossa amizade, só não sabíamos da grandeza, da forçura dela. Pensando agora, penso em você. Você me contando do dia friozinho, do dia de manhã. Me lembro? Lembro-me. De você me contando: “lembro que você, Igor, saiu da porta, mas sem pôr tudo o corpo pra fora, só saiu com um pouquinho dele; e você olhando ao redor…” — mim. Disso me lembro: te vi, meu amigo, quando olhei ao redor te vi você na manhã sem camiseta no friozinho da cozinha? Dias gostosos de se lembrar. Aí, fomos nós juntos para a aula, para o estudo, em três. E como eu queria que fosse em dois, em dois! Uma ideia: já pensou, meu amigo, se pudéssemos sermos, no agora mesmo, duas crianças que verdadeiramente se olham na pureza do nada perceber da infância e: “oi — amigo — quer ser amigos?”, e: “amigo, quero!”. Que maravilha não seria? Seria seria. Voltar e ser criança, só um pouquinhotíco. Fazer as coisas à diferentemente. Mas não nossa aproximação. Isso eu repetiria. E repito: vou repetir, sempre empre. Você sem precedentes. Você é. Lembrar de coisas… Lembrar: o dia de você me contando da história da moça mal educada. Morava na pensão essa moça? Você disse: “ela vindo, a gente na a chuva, de longe vi ela vindo; e eu indo, a gente de guarda-chuva. Quando a gente se cruzou, ela, pra não me dar oi, abaixou na frente da cabeça o guarda-chuva, em escondição…” — quem era mesmo essa moça? Gosto tanto de suas causáticas histórias mineiras. Sua memória: Memória. (Minha). A minha: memória. E me penso, vendo a noite do céu, do luar meio invisível da cidade, que: a gente juntos nunca fomos em cinema, não foi não foi? Nunca vimos filminhozinho qualquer juntos? Que pecado. Mas. Amizade não precisa de cinema, como você me contando daqueles antigos amigos famosos que eram de fazerem que um ia em cinema pelo outro e o outro ficava sem ir. Hora ora, pois o um logo contava o sobre do filme. A gente talvez é tipo parecidos com esses famosos antigos. Somos amizade. Ou: ouvir sua voz me cantando sobre as frutas, linda. E cada fruta… Vô-você assim: "lá em casa, no nosso quintalzão pomares, de frutas os todos tipos têm-os: muitas; lá tem tanta parreira, tanta, que na época da época a gente não tem o que fazer com tanto fruto que dá. Fazemos tudo de: sucos, milemal doces, geleias, ou comemos mesmo a uvinha, zinhas, e damos até fardos-caixas pra vizinhança. Sem jeito, é mesmo muita fruta..." — videiras frutas: profundo poético assunto, como dis-tú? Vida. Tantos profundos conversares poéticos sentados já tivemos… E principalmente sentados nas cadeirinhas de praia. Cadeirinhas nossas da praia. Nossas não: do dono. E o que não são duas cadeirinhas de praia para dois bons sentantes? A vida! Queimação de verdades. Lembro? Hálembro. O dia das pernas cruzadas, de muita sentabundassança. Mas como é diferente o ôrário! Como é. Aquelas noitinhas, nossas — outros tempos. Vida vida. Viver. Espelho tu tú. Tu tu tá. Entre reflexos: reflexãos e reflexões. Lembra lembra da aquela conversa? Do dia que descobri que arte é conversar e conversar é e vice-versa! Lembra? Do dia que você me fez arte aí, alí na minha frente defronte? Defrente. Dê certo. Deu. Alta conversa! Altas papas. Conversa não foi, já que mais que conversa fora fôra. E fôra foi de só bobeiras? Das esperiências passadas? Do que se ia ser? Foi oi — dúbio, rúbio. Que choque, choque choca. Não bota choca. Galinha ovo. Choque, toque do outro mundo, mesmo mesmo. Nossas pernas encruzadas, em cruzes intelectuais pseudointelectualmente. Falei do: do como o é meu ser, e como, e tentei para tí explicar o meu não me entender (que me eu não entendia e me ainda não entendo); tentei: “dentro daqui, no escurinho da cabeça?, tenho o tipo de duma-caixa-preta-mesmo, que nunca não se vê em dentro, nem desmiopando-se, e o que tem-se alí indentro: não saber. Que coisa…” — e, como sempre, um três chegou (pra trapalhar). Que coisa! E me quebrou tanto que não quis nem fazer mais nada alí. Choque pior depois de choque melhor. Quem ousão! Ousadiam-se coisas dessas? Aí, mesmo quis excluir todos e ter para sempre nosso um momentinho nosso. Num infinitamente nosso. Nosso, e não de três! Pois. Quem disse que numeral esse “três” é perfeição. Três, por causa de triângulo? Forma maior, perfeita? Tríplice Trindade? Se não! Seremos duângulo, sem fêcho, sem fim… Diferentes. Não nos importemos. Perfeição é dois! Numeral depois de zero, e depois do zero o um. Porquê, O. Se formos pra ser em três é é: ti e mim e tú, só — três. Mas. Bem ainda, bem. Foi aquela a inicial primeira, a primeira de todas, que deu só início. A minha, de tudo, nossa arte juntos, arte mesmo, só que arte só para nós, chique-vipe-privativa, sem saber ninguém, obra magnânima feita por nomes nossos (queridos combinantes). Alí já éramos mais que amigos, que amigos amigos, que amigos amores. Mais que tudo. Émos, sôremos. Mimos. Nós-você. Mas. O perceber. Acho. Foi assim. Bem quando você foi embora daquela vez primeira-última que a gente, (eu lope menos), percebemos o valor de amizadôna que é nossa amizade. O valor. Lembro que a gente, em colegas de pensão pensionato, tiramos foto de despedida sua para sua recorlembração. Mas, antes do seu foi-se, teve-se um de seus grandes ensinamentos que você me em sempre ensina: me ensinou a escrever. E como gostei! A escrita. Foi este. Você disse: “Igor, Ígor, olha aqui bem, antes do eu ir-me quero e você precisa fazer, e me fazer por mim, isto: escrever para mim, escrever, não sei, alguma coisa, fazer um escrito, alguma qualquer coisa!” — e eu fiz, escrevi, em bilhetinho papel, algo assim: você mais vai, mas fica, ficou. Ficará? — esse algo assim. E coloquei adentro do quentinho de sua bota, botão. Achei que talvez aquilo um dia fosse se fazer encontrável, passível de encontramento. Mas não: foi-cê. Com você, como você. Foi-se. Bom foi. Aquilo fizeu em formato de R, de Luar. Coisas bobíssimas… Melhor mesmo foi o não, o não encontrar. Aquele dia queríamos o choro de todas as vezes que não choramos? Você a Minas. Arrependimento. A resposta?: saber não sei, mas está na simplicidade — chorar, e chorar por tristeza, não por falta de tristeza. Mas aprendi a escrita, naquele mesmo dia. Como se professor Luar, velho professor, ensinasse e pegasse na mão da criança Igor para ensinar a letra cursiva que se faz favor em gente adulta e séria, e como se ensinasse todas regras todas, como colação de vírgula e vírgulas, e puntudos pontos e pontos pontantes, craseamentos e tudo o mais que há de regra e de criação, e tudo também o resto, porque pouco se fala da minha mente mente que tenho por você, de lembranças menores e pormaiores pormomentos. Agora já sei. Já sei escrever, no agorinha. Coisas tantas são as que aprendi contigo você. Amigo. Precisa-se elogiar quem tu és. Tigo. Seu sere celeste. Tão elogio! Tu você. Você, meu amigo — meu — (como este sempre digo): você é gente séria, gente de verdades, como poucos, da verdade, como todos, único — como a gente um do outro e outro do um dissemos — único único você, sério você, não sério sério: sério certo, sério de personal personalidade, de personalidade concordante, do bem para o bem, a seu modo, luarmente. Isso. O isso, de novo! Também. E seus ensinamentos. Sãos, seus ensinamentos. Professor maior, por exemplo mor. Exemplo tú, como exemplo exemplo é a lua para os Etevaldos que nela habitam. Ah! E como. Como tão tá hoje bonita a lua. Lua dos extras-tê… Há lua bem grande, apesar de minguante. A lua me diz seu nome, e me lembra de teus saberes. Ah! O saber seu. Teu saber: Saber. (Meu). O meu: (ladainhas…)? Pois pois pois, ora, quantas tantas não foram as vezes? Às vezes eu afirmativamente respondia, mas quantas não foram as vezes que você: “ei, conhece tal coisa, arte, além disso: famosíssima arte?”; e eu nada não conhecia, nem ouvido falar tinha, sempre desapontantemente. Coitado de ti sieram deviam nossas conversas. Conversa: tí único interessante. Reservo-me. Soleils. Deixe-me em meu saber só-de-bobeiras-saber. E você dizendo coisas profundas de poetisa Hilda e eu só no infantilizíssimo ater ao significado das coisas. Bobeira maior. Quero o frio, seu. Você me ensinou o entender da vida que: que coisas e significados de coisas não são coisas para se ater atento. Verdade mór, sincera: o sentir. A vida te ensinou e você me ensinou. Então. Se contigo apreendi. Logicamente: você é minha vida. E vidas minhas és tú. Mas. Eu respondia. Respondia e negativamente respondia, mas eu meio que meio positivamente também. E você gostava quando eu meio que positivamente repetia: “não, nem, desconheço essa Rílda Ris, nunca li; mas ainda nunca li…” — você gostava. Ainda: hei de, um dia lererei tudo. Lembranças do seu gostar de mim… Saudade e saudades de ti. Aliás, convite: quer ir ver filme, juntos comigo ver cinema? Outra ideia: já pensou, amigo meu, se sermos pudéssemos, no mesmo agora, sermos dois senhores de idosas idades, tocantes de violino, que ao perceber o de nada não entender da velhice decidem juntos tocar música para celebrar a coisa única que enviolinamente entendem na vida: amizade de sis próprios? Que maravilha… Né? É. Môr. Amigo, digo: espelho, espelho meu, tem alguém mais? Alguém mais... Tem? Porque tu és o meu espelho. Sempre. E sempre penso em você e, se não penso, penso em ti — em Tú, que digo: tu, espelho meu. Mas que não é espelho por me refletir em nítida perfeição (ou, e ou e talvez é até seja), mas por motivo este: quando estou com você, como já disse e digo, estou sozinho, sozinho estou: sozinho, sem amarras e mentiras, sem mentiras e invenções — verdadeiro eu, estou comigo, verdadeiramente tu, estou contigo, contigo estou, estou com você; para sempre nós, amigo meu, meu amigo — o Luar. Seja. Estar com você. Ou. Viver. Dubiamente viver. Noite. Nós. Doido foi o fato quê do qual moramos juntos, não ao mesmo tempo, mas juntos, juntos no quarto cinquenta e dois: nós dois. Que também, (engraçado…), morou também aquele outro menino meio mala cem alça. Aquele o que a não conhecer eu não cheguei. Que escrevia coisa nas paredes e desenhava imagens nas paredes. Sabe? Era ele o três? Doído. Coisas doídas mesmo, só mesmo vindas da noite nortuna. Noitemente. Luarzação. Ó, Luar; Ô, amigo meu: quais tantas são suas histórias, quantas tantas não foram vezes as que você já recontou-me-lás, e eu, que de fraca memória sempre tudo me esqueço, esqueci já ás todas tudo vez outra de novo. Senão aqui contava elas histórias por mil e mil páginas e páginas. Fim sem fim. Fácil é contar histórias essas suas, lindas; difícil é fazer a análise. A análise, esta: é o amor, é paixão entre dois amigos. Coisa linda de se sentir, experiência. À noite, à lua, escrevo. Luar — lua grande clara-escura, parte ablubilada (como minha fraca memória de jovenzinho). Sózinho. Vejo o céu. Só escuro. Mas claro: clara a lua. A luz a pôr forma e contorno no escuro das coisas. Porque você é como a lua do céu, como o luar. Você é o Luar… Dúbio: dois. Nós, dois. Lua clara, escura noite. Noiteceu. Confiamos à noite a nossa aurora. Nossa aurora amizade e aproximação. E à doida noite confiança démos. Dê certo! Quê? E certo deu-se. Aurora da noite — noitecer. Você e arte: éses. São sãos. Te sigo. Pois tudo, amigo meu, é para você. E que saudade grande tenho de você… Ei. Me dá hoje o friozinho, o aconcheguinho do seu ser. O friozinho noturno que a gente gosta, que você gosta, a tempestade, o tempo chuvinha que você — contando noutra história sua — você distu: “era prova de inglês, acho, eu era pequeno; era pra definir o que eu like e o que eu don’t like, desdiferenciar: e eu coloquei “chuva” no like! Tomei logo um errado xis da professora-títcher, lembro…” — vamos ser diferentes! Agente: juntos, sempre. Desdiferencio-lhe-te, em mesmo português: Tú — Pasequerista, ó ramos escritos por Deus; Você — Soturno, como lua. E, como a lua, te vejo de lonjinho quando às vezes posso, mas só de lonhiinho. Despartes. Solidão nossa solidão, muito mais que muitos anos de… É amor de saudade. Nossa saudade: angústia — palavra que você muito gosta. E como eu conheceria o sentir maior de toda angústia do mundo se não tivesse aquilo feito? Pois. Quando morrerei, já sei: morrerei angustiado. Sabor amargor? Docemente. Lembro: você docinho me dando o mineiro docinho do leite… “Aire, me adoçou tanto (…)”? — quem em tanto me adoça é você. Minha vida? Dou-tí. Dóidá. Dar-se. Vida minha. A nossa próxima ação… Amores. Dôravante. Ei, ei, sou então seu amor da tua vida? Nunca. Amor-te. Você! Você, vocêeu nunca nem imaginava, nunca te imaginei; Nós, você e eu — menos muito. Nunca nunca nunca. Pronto, trí: três. Ponto. Pois. Juntos, nós. Nas tentativas dessa vida. Escrever juntos. O uso do verbo. Hora. Planeta. É, pois. Sóturno. É só. Mistério… E só émizade. Amizade é só experiência nossa. Experiência é pouco… É coisa única que única acontece na vida, que aconteceu. Lindo, como você diz. Luar… Foi. Mistério? Nós! E sempre. Mas… Esta noite, razoavelmente bastante cheia é a lua. Mas! Muito mais que razoavelmente bastante: Nossa aproximação…

Do verbo: “escrever juntos”

A gente se aproximou razoavelmente bastante, o que é curioso, porque eles não tinham muita razão pra fazer isso, porque eu não participo das integrações, das festas, do trote.
Mas é interessante pensar nessas coisas que acontecem uma vez na vida.
Tipo a nossa aproximação.
Tem coisas que acontecem comigo que eu só consigo falar com você, não existe outra possibilidade.

Ah, mas eu tenho mais que certeza absoluta que nunca na vida jamais vou encontrar alguém tão único como você, meu amigo.
Único como você não tem.
Mas a vida é um grande mistério mesmo, como essas coisas estranhas acontecem.
A gente ter se encontrado.

Como que bem provavelmente isso jamais vai acontecer de novo.
Uma espécie de tristeza misturada com angústia e solidão.
(Aliás, eu acho essa palavra tão bonita, "angústia", é o nome de um livro do Graciliano).
Eu sinto que tem coisas que só você pode ouvir.
Eu sinto tanta falta das nossas conversas, que são conversas como poucas.
Você é lindo.
É tanta coisa pra dizer.
Com tanta profundidade.

E eu sempre vou sentir saudades de encontrar você, e sempre que a gente se encontrar vou ficar muito feliz.
Sempre é muito bom conversar com você, ouvir suas histórias.
Sempre é muito bom.
Ter uma conversa mais profunda.
Ou só falar sobre as frutas.

Um assunto lindo demais, profundo e poético.

Eu te amo muito.

E é curioso, porque pode parecer que um fala porque o outro fala.
Mas não.
Nunca.

Nunca.

E eu te amo muito.
Muito mesmo.

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