Enclausurados

Marcelaamaral
Iandé
Published in
2 min readMay 31, 2020

Com a minha atenção sempre voltada à assuntos relacionados à minha vida, como ciclos e amizades, ignorei pequenas coisas, no entanto, importantes, que acontecem ao meu redor, às quais nunca havia questionado até este isolamento.

Como: quem são as pessoas que moram à três metros de distância de mim?

Foi preciso de uma pandemia mundial para nos conscientizarmos de certas coisas, conseguirmos ser mais empáticas uns com os outros, mesmo de longe, se importar um pouquinho mais. Fiquei por exatas três semanas observando os meus vizinhos. Seus afazeres, cotidianos e manias.Tive a oportunidade de, enfim, prestar atenção em pequenas coisas que possuem um significado muito maior do que aparentam ter. Como não sabia da vida de ninguém por ali ( o que sinceramente, me assustou tremendamente) como as suas histórias e identidades, criei eu mesma.

Imagem captada no dia 10 de março de alguns prédio da vizinhança,Pinheiros

No começo era uma brincadeira, baseando-me no filme “Janela Indiscreta” do diretor americano Alfred Hitchcock, onde o personagem L.B, incapacitado de andar graças à sua perna quebrada, começa a observar atentamente janelas alheias da vizinhança. Portanto, depois de um tempo, eu realmente comecei a me intrigar com tal circunstância. Me intrigar com a falta de curiosidade, empatia e afinidade do indivíduo nos dias de hoje. Percebi durante essas semanas que não sentimos a necessidade de saber quem é a pessoa que dorme ao nosso lado.

Assim citado por Baudelaire, consegui sentir verdadeiramente o significado de “flâneur”, ou seja, o ato de observar e tornar-me um homem do mundo. No entanto, consegui fazer isso sem sair de minha própria casa.

selfie

--

--