Erosão Antrópica
Por Isabela Bassani
Queria que você me sentisse como o vento
que acaricia seu corpo todo
balança seus cabelos e zumbi em seu ouvido
às vezes forte demais, a ponto de nem os olhos conseguir abrir
e às vezes fraco e envolvente te embala,
arranca um calafrio de sua nuca.
Mas me sinto como pedra
pesada, arrastada, áspera
esperando o vento vir e me moldar
com os anos me abraçar.
Sou um pedra e me apaixonei pelo vento.
No começo,
ele vinha forte e eu me agarrava no chão.
Agora,
ele vem e me faz cócegas
eu sinto um pedacinho de mim levemente indo embora com ele.
Eu fico menor,
menor,
mas eu adoro.
Adoro pensar que eu estou indo junto dele,
agora um pedacinho de mim parou de se sentir um peso e voa por aí.
O vento me envolve, me circunda, me cerca, me rodeia e me enlaça
contar a quanto tempo já nem faz mais sentido
eu nunca me canso.
Só que agora eu já não me sinto mais tão pesada
talvez porque com ele
o vento,
levou metade de mim
desfragmentada eu voo por aí.
Agora já mais leve eu consigo me mover com ele
quando vem forte, eu consigo me balançar
saio um pouquinho do lugar,
vejo aquela árvore
que nunca antes conseguia ver do lugar que estava.
Mas eu sei que vai chegar um momento
que o que sobrar de mim,
também vai embora com o vento
e aqui já não sobrará nada dito como meu.
Pois, lá
onde o vento vai
eu devo achar os meus outros pedaços
e me juntar talvez.
Mas e agora, o vento levou tudo
tudo.
Não sobrou nada.
E o vento tá por aí
nunca consigo fazer ele parar.
E eu
E eu não encontro esse tal lugar
onde o vento levava meus pedaços.
O vento tá por todo lado
e os meus pedaços também.
Talvez eles mesmos tenham também se tornado vento.
Talvez eu mesma tenha me tornado vento.