Eu (des)aprendi a amar

Lívia de Lucca
Iandé
Published in
2 min readDec 5, 2022

E foi assim que eu descobri o amor.

E foi assim que eu amei pela primeira vez.

Mas eu não sabia, ainda não.

Meu pai sempre me disse, “ingenuidade não tem perdão”, e eu fui ingênua.

Tão ingênua que não percebi.

Não percebi nos olhares, nos toques gentis, nas palavras cautelosas, sempre tão cautelosas.

No jeito em que nossa risada encaixava e a conversa fluía.

Na saudade de minutos e as manias que viraram minhas.

Ele me tocou como se eu fosse de porcelana, depois brincou comigo como se eu fosse um brinquedo.

Se não fosse a primeira vez eu até poderia ter adivinhado. Mas então, qual seria a graça?

A graça de sentir o coração pular com o inesperado, os pelos se arrepiarem com sua proximidade e lembrar do seu cheiro enquanto abraçava outro alguém.

Eu devia ter adivinhado.

Então, seus beijos já não eram meus. Nunca foram.

Eu deveria ter imaginado.

Era ela esse tempo todo? Será que eu estava imaginando tudo isso?

“Ingenuidade não tem perdão”, mas eu estava tão feliz por ele. Eu poderia não me importar com aquilo tudo. Não é?

Mas ai depois você me disse. Me contou tudo, uns meses depois.

Era eu.

Mais ninguém.

Então por que? Eu não poderia perguntar. Ele estava feliz. E ela também.

Quem diria que em algumas horas daquela conversa eu desaprenderia a conversar com você.

Foi como um último suspiro antes do mergulho.

Você mergulhou e me deixou lá. E eu perdi vocês dois.

Tenho certeza que foi a primeira vez, porque foi a última.

Nunca perdoei minha ingenuidade.

Foi assim que eu descobri o amor.

E foi assim que nunca mais me deixei amar.

Photo by Belinda Fewings on Unsplash

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