Quarentena

Luísa Rezende
Iandé
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3 min readMay 6, 2020

O que é experiência estética? Pode ser o fato de sentir, presenciar ou conhecer algo. Pode ser a prática prolongada de uma atividade que proporciona tal conhecimento. Pode ser o conjunto de conhecimentos adquiridos ao longo da vida, com base nas situações vividas ao longo do tempo. Pode ser a tentativa de fazer algo.

Diante a esta foto, posso dizer que senti diversas formas de experiência.

Sou de Itapira, uma pequena cidade no interior do Estado de São Paulo. Em pleno mês de maio, não era para eu estar aqui, já que é o meio do semestre letivo e moro em São Paulo, pois curso Relações Públicas, na FAAP. Porém, aqui estou por conta de razões que, confesso, ainda não entendo com tanta clareza. Passar de carro na José Bonifácio, a rua principal do centro da cidade, e me deparar com a solidão das ruas me trazem sentimentos geradores de pensamentos nunca sentidos antes por mim.

Fotografei este homem retratado na foto, pois ele representa muito mais do que palavras possam dizer: a roupa preta, a máscara, os braços soltos com a impressão de estarem sendo puxados contra a lei da gravidade e o olhar direcionado para o chão me passam a sensação de luto e desilusão. É como se não fosse mais possível olhar para frente. É difícil encarar a realidade.

Já são 55 dias em casa. 55 dias sem ver amigos, familiares (meus queridos avôs, que saudades). 55 dias com medo sair para fazer atividades corriqueiras, como ir a um mercado ou a uma farmácia. 55 dias recebendo um turbilhão de informações. É sistema de saúde até da potência mundial, vulgo Estados Unidos, entrando em colapso. É gente morrendo. É gente sendo enterrada em valas comuns. É comércio, empresas e fábricas sendo fechadas. É economia quebrando. É aumento da desigualdade. É panelaço. É guerra política. É guerra ideológica. É medo. É ansiedade. É angústia. É incerteza. É crise do pânico. Por aí vai, se parar para pesar, existem muitos “é …”.

Tudo isso por conta de um vírus? E agora? Outro 11 de setembro mergulha Nova York na impotência. Onde entra a tecnologia desenvolvida em bombas nucleares? Onde vai parar a humanidade? Até onde iremos suportar? Ou até quando o planeta Terra irá nos suportar?

Sinto que a palavra mais adequada para designar o que acontece é catástrofe e me sinto sufocada pela magnitude dos acontecimentos. Também sinto que a pandemia de coronavírus veio para lançar ao mundo a forma de repensar a sociedade com reflexões inéditas, novos arranjos políticos e soluções inovadoras.

Mas mesmo assim só tenho a agradecer por tantos privilégios, pela minha saúde e de entes queridos. E acima de tudo aprender muito com tudo isso. Realmente, não somos tudo isso que tanto nos enaltecemos ser. Através de tanta incerteza e vulnerabilidade, espero que possamos evoluir como seres sociais. É hora de pensar no novo normal.

Sim, talvez essa tenha sido a experiência mais insana e inesperada da minha vida. Afinal, eu, a amadora da rua, há quase 60 dias em casa? Algo muito sério está acontecendo!

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Luísa Rezende
Iandé
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Meu nome é Luísa, tenho 19 anos e sou estudante de relações públicas na FAAP, em São Paulo. Usarei esse espaço para compartilhar meus pensamentos e anseios.