Experiência estética – Itália

Laura Lupo Medina
Iandé
Published in
4 min readApr 21, 2019

O sol ainda não havia nascido quando entrei no carro. Sonolenta, eu tentava entender o que o motorista dizia, num italiano carregado de sotaque. Vários minutos dirigindo pelas estradas da Toscana, ao nosso destino, uma pequena casa na periferia de Firenze.

Fiquei um mês sozinha na Itália em 2016. Tinha apenas 16 anos, havia tudo apenas oito meses de aula de italiano e mesmo com pouco conhecimento de como seria estar lá, me joguei nessa aventura.

O primeiro dia foi bem complicado, não conhecia ninguém, a casa onde eu estava era suja e muito abafada e nem mesmo a dona estava lá, um outro intercambista de Liverpool que me atendeu.

O desespero logo bateu quando percebi que estava sozinha, não conhecia. ninguém e nem sabia se iria jantar aquele dia. Liguei para o meu pai chorando dizendo que queria voltar ( hoje rio desse episódio), após algumas conversas eu respirei, me acalmei, desliguei o telefone e pensei comigo mesma “poderia ser muito pior”. Resolvi dar uma volta para passar aquele dia, afinal no próximo teria aula de italiano e as coisas talvez melhorassem.

As aulas foram muito legais! Conheci meus professores e colegas de varias partes do mundo, o que já vez a viagem ficar maravilhosa. A única coisa que não estava certa era a minha moradia, além da casa ser bem estranha, não podíamos ligar o ventilador ( era pico do verão na Itália), não podíamos trancar o banheiro e eu achei cabelo na comida pelo menos umas duas vezes, até hoje não sei o que comi, além de comermos em pratos de plástico pois a dona tinha preguiça de lavar os de louça.

Uma semana se passou, todos os intercambistas queriam mudar dessa casa e assim foi feito. Teclamos todos nas nossas escolas e eu fui transferida logo no dia seguinte. Me mudei para uma casa menor, porém, fui recebida maravilhosamente bem e lá conheci uma das minhas melhores amigas hoje, uma russa chamada Masha.

A partir disso os dias só melhoraram. Eu e Masha saíamos todos dias para explorar as diferentes partes de Firenze e conhecemos muito além dos prontos turísticos.

Junto a outros amigos que fiz como os espanhóis Alex e Camila, fui para Luca e Arezzo. Com a Fiammetta, uma italiana nata de Firenze mesmo, fui para Livorno. E com a Masha fui para Pisa e para uma marina que havia lá perto onde entrei no mar mais gelado da minha vida, o qual para a Masha não fez a menor diferença já que ela vem da Siberia.

Enfim, aventuras para lá e para cá e o sentimento de liberdade só crescia. Após vivenciar toda essa experiência, cheguei à conclusão que. viajar é uma oportunidade de conhecer cartões-postais que já vimos milhões de vezes em fotos, mas de pertinho, com todo o impacto que esse tipo de experiência é capaz de causar. É uma oportunidade de descansar, se divertir e, por que não, sonhar acordado, pensando em como seria viver lá e não cá.

Pensando nas muitas vidas diferentes que poderíamos ter, em cada esquina do mundo. Mas o ato de colocar uma mochila nas costas e se entregar ao mundo pode ser mais.

Sair de casa e conhecer um lugar relativamente distante é entender que a forma como enxergamos a vida — e nos colocamos neste planeta — é influenciada pelo meio em que crescemos e vivemos. Entender que tudo é transitório, um momento passageiro no fluxo continuo de acontecimentos que é a vida.

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