‘Forever Now’— uma experiência de auto-conhecimento

Milena Oliveira da Silva

Milena Oliveira
Iandé
4 min readMay 19, 2022

--

Desde os primórdios tempos, o ser humano vem desenvolvendo diversas formas de transmitir conhecimento e cultura a partir de formas de expressões universais. A música é uma delas, onde é possível traduzir emoções e sensações pelo som, utilizando de instrumentos musicais e outras formas de emitir som, uma vez que, um artista pode transmitir mensagens e realizar sua arte com suas próprias técnicas e meios. Na era das cavernas eram utilizados instrumentos pintados em madeira ou apenas sons exalados pela voz — o instrumento que não pode ser visto ou senti-lo pelo tato, chegando aos dias atuais, em que foram criados os mais diversos instrumentos sofisticados, de diferentes formas, cores, materiais e até mesmo os elétricos, alguns até em softwares de computadores, um exemplo sendo os softwares da Yamaha desenvolvidos desenvolvidos a partir do ano de 2000, onde sons até mesmo de vozes podem ser disponibilizados a partir de sintetizadores.

A Forever Now, da banda Green Day, do álbum Revolution Radio e lançada no ano de 2016, por sua vez, pode transmitir poeticamente e dramaticamente as mais estranhas e angustiantes sensações de uma pessoa que se perdeu nos caminhos pessoais da vida. Nela, encontrei-me acolhida em uma experiência estética que pude identificar as emoções que estava passando em minha mente em um período de confusão, questionamento e tristeza, um lugar que ninguém mais poderia me compreender e sentir calafrios de conflito — parecia estar de estômago vazio, mesmo se não estivesse com fome.

Em um período de separação, dificuldade, complicações da vida de uma adolescente em 2019, eu estava lidando com o divórcio parental, corações partidos de paixões perdidas e frustração acadêmica, sentindo-me insuficiente e com auto-estima baixa, comparando-me com outros colegas que se mostravam muito mais dispostos a “viver” e “felizes” do ponto de vista de alguém que parecia estar caindo aos pedaços. Todo o mix de emoções poderia ser convertido ao simples início introdutório de uma música de aproximadamente 7 minutos, e uma letra caoticamente escrita pelo cantor e compositor Billie Joe Armstrong.

A música finalmente me fazia sentir em algum lugar que podia compreender-me sem opiniões e interferências externas do mundo agitado do Ensino Médio, onde estamos sempre socializando com o resto, beijando estranhos e pensando em vestibulares. Eu não. Eu queria viver um romance com alguém que já havia esquecido como me amar, mas eu não aceitava, me machucava por isso e me encontrava em trechos da canção como “I sit alone with my thoughts and prayers, scream out my memories as if I was never there” (Eu sento/espero sozinho com meus pensamentos e orações, grito minhas memórias como se eu nunca estivesse lá). Perdições escolares em que sentia-me estúpida e insuficiente mas que letras como “I never learned to read or write so well, but I can play the guitar until it hurts like hell” (Eu nunca aprendi a ler ou escrever tão bem, mas eu posso tocar minha guitarra até doer pra caramba). É sobre exatamente isso que se trata a canção: estar em uma liberdade nova, porém ainda em inquietudes; querer mais do significado de “viver”, mas ainda não saber exatamente o quê.

Eu não queria admitir, mas estava entrando em um quadro de depressão que só entenderia no final do ano — após diversas angústias de “standing at the edge of the world, is giving me the chills” (estar de pé na beira do mundo, está me dando calafrios), estando à beira de mim mesma e dos limites das minha emoções e responsabilidades — entenderia que foi um mau necessário para crescimento pessoal. Em dezembro do mesmo ano, uma colega minha me disse que me admirava por ter enfrentado tantos conflitos de uma vez, mas não deixar de sorrir momento algum pelos momentos bons. Que apesar de tantas dificuldades foi possível superar todas elas, esforçar-me por uma versão melhor e mais sábia de mim mesma.

Para todo esse processo, essa música ajudou-me a expressar melhor tudo que estava passando. Hoje não ouço mais essa música com as mesmas sensações, hoje não choro mais ouvindo-a, apenas a nostalgia de quem eu era antes. A nostalgia e frio na barriga, às vezes vergonha de um antigo “eu”, mas que me traz orgulho da mulher que me tornei. Me esforçar ao máximo para lidar com dores que não eram mais minhas, algumas que nunca foram, e finalmente bater de frente com a vida acadêmica que tanto me fazia sentir-me humilhada.

A música Forever Now me trouxe uma experiência que eu jamais poderei colocar em palavras — elas não seriam suficientes para descrever o que senti naquele ano, elas não carregam o peso da letra da música de um cantor poeta e louco. Elas não carregam o peso que a montanha russa de melodias da música traziam em uma mistura ousada entre a bateria, baixo e guitarras. Eu como guitarrista, nunca poderia tocar aquela música sem me doer um pouco, sem ter medo de voltar para aquela época.

O final de Forever Now é híbrido de uma segunda chamada Somewhere Now, em que o autor finalmente se encontra em algum lugar que faça sentido. Mudar a vida para algo que, agora compreendendo melhor o que passa em sua vida, faça mais sentido, com mais calma e pensando melhor nas decisões significativas para estar em paz. Estar “sóbrio” ao interpretar os sinais da vida, era isso que eu precisava, sem impulsividade, eu apenas não sabia, mas essa música… ai, essa música doeu, mas após ouvi-la mais de 100 vezes e ser meu hit mais tocado do ano no Spotify, ela fez sentido. A dor finalmente fez sentido no final, e eu só posso agradecer à ela e ao seu autor.

--

--