FUERZA BRUTA

Paula Barbosa Pires Soares
Iandé
Published in
3 min readApr 16, 2018
Espetáculo 360 graus, FUERZA BRUTA, Buenos Aires, Argentina.

Crônica de uma experiência sensorial

Um chegar despretensioso me levou a uma experiência incrível. Era como se tudo tivesse conspirado para que eu pudesse estar naquele lugar. A verdade é que ao encarar a fila ao lado da minha mãe nunca esperei tamanha comoção.

Me fizeram esperar numa antessala, onde busquei me divertir no meu telefone celular. A verdade é que a paciência, que já me era curta, se esvaia com a medida do passar do minutos. Entramos no lugar onde o show acontecia, e foi ai que tudo mudou. A experiência de ir a apresentações artísticas, que eu havia adquirido por toda a minha vida, nunca me prepararam para aquilo. Era como se os tambores te convidassem a participar, algo de um nível gravitacional. O ambiente todo se modificou, tudo estava distinto. A medida que o show ia passando pude viver a experiência do corredor, que atravessava os obstáculos de maneira incessante. Pude ver os acrobatas que conquistavam o céu e aumentavam o espetáculo, e vislumbrei um mundo aquático quando as dançarinas desbravam a tela transparente que se encontra acima de nós.

Finalmente compreendi o que era viver uma experiência artística significativa. Nunca me interessou o balé, ou a ópera, então nas vezes em que fui obrigada a me sentar para fingir divertimento, os minutos pareciam horas e as horas me pareciam dias. Acredito que nunca verdadeiramente encontrei significado naquilo tudo, até o momento em que adentrei o FUERZA BRUTA. Como um turbilhão de emoções, me encontrei rodeada de um furacão de frenesi, estava totalmente envolvida.

O envolvimento com o mundo da arte, que até aquele momento, me parecia necessário, mais por um cumprir de tabela do que por uma real paixão, se tornou claro como a luz do dia. O acontecimento me transportou, me fez sentir emoções impensadas para uma noite qualquer como aquela. Será que estamos todos então fingindo? Eu fingi por diversos anos, e poderia ter seguido essa traição com o meu próprio desejo por toda uma vida. Porque fazemos isso?

A interrogação final me dá uma angustia tremenda. Não é que mentimos apenas para os outros, mentimos para nós mesmos. Somos pouco fieis as nossas próprias verdades. Achamos que o ideal da apreciação da arte é maior que o nosso gostar ou não do fenômeno. Como se a idéia de que aquilo é legal, fosso maior do que a nosso livre arbítrio de gostar ou não de espetáculos. Descobri no dia fatídico, que para que um espetáculo me envolva ele precisa ser uma experiência sensorial, nunca pude descobrir isso antes, porque os modelos clássicos de arte não nos dão essa opção. Os espetáculos são pouco ou nada participativos, onde você é obrigado a receber o que te deram, sem poder reagir a tudo aquilo.

Acho que o ficou cristalino depois dessa apresentação para mim, foi que o impacto social do que é a arte convenciona a nossa maneira de ver a arte. O que é bom e o que é ruim não nos pertence, e isso é algo que considero terrível. Para mim, se o processo fosse sofresse menos interferências, acho que seríamos mais felizes com as nossas próprias escolhas.

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