Vitor Sérpico
Iandé
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4 min readApr 24, 2020

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Ida ao mercado durante a COVID-19

O medo pelos corredores

Por Vitor José de Moura Leite Sérpico

Parece algo normal, comum ou banal porém nada mais é comum em tempos de pandemia, a relação com o meio social está totalmente afetada por um vírus que não conseguimos enxergar e muito menos combater.

Uma sociedade cercada de tecnologia e estudos está sendo dominada pelo medo e angústia.

Quando tudo começou, quando as faculdades fecharam as portas e os Estados Unidos se posicionou em relação a COVID-19 a primeira reação minha e dos meus pais foi querer se isolar de maneira mais intensa possível, pois minha irmã mais nova tem inúmeros problemas respiratórios como asma, bronquite e infelizmente tem a imunidade baixa e acaba sempre contraindo essas doenças, tanto que ela pegou 5 vezes a gripe suína (H1N1). Sendo assim pensamos nos meus avós de parte de mãe que já tem uma idade mais elevada, problemas de saúde e consequentemente chances de contrair o corona sendo assim teriam muita pouca chance de reverter o quadro crítico dessa doença.

Nos isolamos no rancho, onde temos muito mais segurança do que em casa e além disso muito mais espaço para conseguir passar o tempo de isolamento de maneira mais tranquila e menos estressante. O sítio fica depois de uma cidade chamada Cerqueira César, no interior de São Paulo e aqui ainda não teve nenhum caso de corona, então já conseguimos sair de perto do centro da epidemia. Chegamos aqui e tomamos os cuidados devidos para não sermos contaminados. Com os caseiros do rancho que cuidam da casa, horta, pomar, casa do barco e etc. tivemos uma conversa sincera onde revelamos nosso medo e insegurança e pedimos para que eles tivessem também.

O que me deixou mais impactado dentro de toda essa situação foi a ida ao supermercado durante a quarentena. Me sinto 100% seguro no Rancho com minha família, porém o que trouxemos de comida no primeiro momento não foi o suficiente, pois imaginamos que iríamos passar menos tempo aqui. Sendo assim o dia do mercado chegou, fizemos listas para não esquecer nada com quantidade e tudo mais, até escolhemos o dia e horário para tentar pegar o mercado vazio.

Criamos um plano e levamos máscaras, luvas e álcool gel para o mercado. Mesmo tomando todos os cuidados possíveis o medo passa pela nossa cabeça o tempo todo, algo que era normal como escolher os produtos, pegar a caixa que fica no fundo que está menos amassada ou passar no corredor que tem pessoas já é um risco na cabeça de quem está 100% isolado e convivendo com pessoas da zona de risco pois nós sabemos que estamos fazendo o certo. No mercado havia pessoas sem máscara e sem luvas, pegando e soltando os produtos, conversando, se abraçando e até mesmo beijando. Isso me deu muito medo e agonia inexplicável. Só queria sair do mercado e voltar para casa onde sabia que estava seguro.

Além de tomar todas precauções, assim que chegamos em casa colocamos tudo sobre a mesa e produto por produto fomos esterilizando e guardando limpinho, os sacos e embalagens foram jogadas foras e as roupas e sapatos do mercado tiramos logo depois de esterilizar tudo para não entrar em casa com o vírus.

Algo comum e prazeroso da nossa rotina se transformou em um momento de medo e angústia. Você não quer mais encontrar as pessoas e muito menos chegar perto delas, todos parecem uma ameaça e isso me deixou chocado e me fez refletir sobre esse momento.

Foi muito difícil e cansativo ir ao mercado, porém me mostrou um pouco o sentimento das pessoas que estão na linha de frente, o que eu mais desejo e peço é que tudo volte ao normal e eu espero muito que as pessoas comecem a valorizar essas pequenas coisas que parecem comum mas na verdade podem mudar de um dia para o outro.

Tenho muita fé que tudo vai passar e vamos conseguir ir no mercado tranquilo, passar no corredor dos doces e ficar 10 minutos pensando e pegando todos sem ter medo. Para essa experiencia foi muito intensa e marcou a minha vida, vou contar para meus filhos e netos, pois sei que essa pandemia é um marco na sociedade mundial.

Vitor Sérpico — # 3APM20201 -(quarta-feira 11h10)Publicidade e Propaganda

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