Juliana Schultz
6 min readJun 8, 2023

INTERCÂMBIO PARA O JAPÃO

Quando as pessoas descobrem que eu fiz um intercâmbio, a primeira pergunta que elas fazem é: “Mas porque o Japão?”.

Essa é uma pergunta difícil, não apenas por ter mais de um motivo, mas também porque antes de ir, eu não sabia exatamente o que esperar.

Um lugar culturalmente tão diferente e ao mesmo tempo tão avançado tecnologicamente teria que me fazer crescer como pessoa. Eu estava em um território totalmente fora da minha zona de conforto.

Seria uma intuição? Um sentido inconsciente ou até mesmo o destino que me levou para lá? Não posso dizer que fui sem nenhum objetivo, mas com certeza conquistei muito mais do que eu esperava. Eu me joguei e deixei que o universo me guiasse.

Cheguei no intercambio do Japão e conversei com muitas pessoas estrangeiras que haviam ido para lá também. Quando eu perguntava para as pessoas do dormitório porque elas escolheram o Japão, para a minha surpresa, todos tinham ido com um propósito pessoal. Pelo menos isso tínhamos em comum. Eu escutei muitas respostas, desde jovens querendo alcançar uma conexão espiritual, até outro se assumindo gay pela primeira vez.

Um dos meus propósitos era me tornar independente. Antes de ir, eu nunca teria viajado sozinha, pegado transporte publico ou até mesmo comprado algo na internet por conta própria. Eu era dependente das pessoas para tudo e precisava estar ao lado de alguém para tomar qualquer atitude. Viajar sozinha estava fora de questão.

Assim que pousei em Tokyo e sai do avião, eu entrei em choque. Nem mesmo o motorista do carro do meu Hotel sabia falar em inglês. Comecei a rir e pensar para mim mesma: “Juliana sua doida, olha onde você foi parar”. Porém, nem por um segundo me questionei se eu deveria estar lá. Meu propósito era ter experiências novas e ver como eu reagiria diante delas, e era exatamente isso que estava acontecendo.

Tokyo

Na minha primeira semana eu já queria cumprir meu objetivo no Japão de ser independente. Eu cheguei dia 9 de setembro, e dia 11 eu acordei com o fuso horário e tive uma ideia maluca. Pensei em escalar o Monte Fuji, a montanha mais alta do Japão. Quando pesquisei na internet, descobri que não era mais permitido subir a montanha pois o último dia permitido era dia 10 de setembro por conta das condições climáticas. Mesmo assim, isso não foi um impeditivo. Esperar para fazer essa viagem mais para frente estava fora de questão. Sem pensar, eu peguei uma mochila e fui para a minha aventura naquela mesma madrugada. Eu estava em Tokyo e eu teria que ir para a ilha de Honshu. Eu nunca tinha pegado um metro ou trem sozinha, e teria que fazer isso com tudo escrito em Japonês.

Depois de me perder um milhão de vezes antes de chegar lá, finalmente estava diante daquela montanha. Era 11:30 da manhã, porém, sem saber, eu peguei a trilha Gotenba, que era a mais longa até o topo com uma altitude de 2300 metros. Eu pesquisei no site e estava dizendo que, para subir demoraria de 7–10 horas, e para descer, mais 3–6 horas. Eu teria que completar a trilha antes de anoitecer para não terminar no escuro. Logo aceitei o desafio, sem calcular direito que, na melhor das hipóteses, eu voltaria ao pé da montanha 21:30 da noite.

Sabendo do meu tempo apertado, subi a montanha correndo. Eu sabia do meu preparo físico pois havia voltado recentemente de uma meia maratona no Brasil. A subida não foi nada fácil. A montanha é um antigo vulcão, no entanto, sua superfície é feita de pó vulcânico. Eu pensei muitas vezes em desistir, mas algo dentro de mim queria saber como seria chegar ao topo. Eu sempre me mantinha positiva mesmo em momentos de crise. Quando finalmente alcancei o topo, fiquei surpreendida comigo mesma. Com persistência e dedicação, eu conseguia alcançar mais do que eu poderia imaginar. Eu desconhecia os meus próprios limites.

Depois de ter ido para o Japão sozinha e escalado o Monte Fuji pensei: não tem nada que eu não consigo fazer. Fui embora daquela montanha sentindo que eu conquistei os meus objetivos, não no sentido apenas de alcançar o topo, mas o ensinamento e confiança que aquela experiencia me trouxe.

Não parei por ali, logo eu me preparei para minha próxima jornada: minha primeira viagem sozinha dormindo fora do dormitório. Pouco eu imaginava que um Tufão atingiria o Japão durante aquela mesma viagem.

Kyoto é um dos lugares no Japão com uma cultura tradicional e enraizada. Ir para lá poderia me trazer uma nova perspectiva de vida e faria com que eu me envolvesse ainda mais com a cultura Japonesa. Sem pensar duas vezes, fiz minhas malas e parti para o local. Após passar o dia inteiro no metrô e trem, e me perder algumas vezes, cheguei no dia 17 de setembro, a noite e sem perspectiva de onde dormir. Andei muito até achar um hotel em que eu pudesse passar a noite.

Ao amanhecer, fui para o meu primeiro passeio no Templo Fushimi Inari. Ele foi muito marcante para mim, pois além de ter um contato maior com a cultura da Budista, foi onde tirei minha primeira fotografia com a câmera que trouxe do Brasil. Ao chegar no Templo, estava observando os arredores e me deparei com crianças encantadas pela decoração colorida Japonesa. Essa foi minha primeira fotografia e sempre me emociono quando a vejo. A beleza da inocência das crianças e as cores me fizeram ver aquela parte do templo que eu provavelmente não teria ido. Parar pra observar o que tem em minha volta é uma das coisas que eu mais gosto sobre a fotografia. Depois desse dia me apaixonei por capturar momentos.

Dois dias depois, o Tufão chegou em Kyoto, local onde eu estava. Eu estava fora turistando e quando percebi sua chegada, tentei voltar o mais rápido possível para o meu hotel de metro. Foi quando eu percebi que todos os metros estavam fora de funcionamento, e ainda por cima, anunciando sinais de alerta em Japonês. Então, peguei meu pequeno guarda chuva quebrado e fui correndo até consegui chegar no meu hotel, sã e salva. Mais um desafio cumprido, dessa vez inesperado. Passei o resto do dia no hotel, esperando o Tufão se afastar. No dia seguinte, segui para os próximos passeios em Kyoto. Poucos dias depois já estava em Tokyo, novamente sã e salva.

Depois de tantos tumultos e obstáculos, percebi o quanto essas viagens foram essenciais para me fazerem crescer e desenvolver pessoalmente, e principalmente me apaixonar pela fotografia. A descoberta dessa paixão me fez querer pular da cama todos os dias. No Japão, existe um nome para essa motivação que faz a gente querer sair da cama e usufruir da vida, conhecido como o “ikigai”.

Seis meses depois, voltei para o Brasil mais feliz do que nunca. Todas essas experiências foram de inúmeras formas marcantes para mim, pois me fizeram evoluir e me tornar quem sou hoje. Eu estava muito grata por ter vivido essa fase, algo que me proporcionou uma experiencia e desenvolvimento que vou levar para a minha vida toda. Foi a partir dessas viagens que conquistei minha independência e paixão pela fotografia.