Isolamento imitando as fases da Lua
por Mirella Carmosino Tozetto
Estou a quase 1 mês e meio sem sentir o Sol do meio dia no meu rosto, sem fechar o casaco por causa da brisa do final da tarde, sem sentir calor dentro do metrô, sem ter o coração acelerado e a pupila dilatada ao ver aquela pessoa especial no final do corredor, sem poder abraçar as pessoas que eu gosto….
É como se eu estivesse naquele filme dramático onde tudo dá certo e é lindo, até deixar de ser. A tempestade chega e tudo o que eu conhecia deixa de existir e fico de frente para o desconhecido, para o caos, o medo toma conta de cada pedaço do meu corpo e meus sentimentos variam mais que as fases da Lua.
Alguns dias sinto que estou naquele retiro espiritual que nunca consegui fazer, fico introspectiva, acendendo incensos pela casa, meditando de hora em hora, escrevendo, pintando e agradecendo. Chego no final do dia renovada, pronta para levar a minha vida por um caminho diferente e dar início a tudo que for novo da mesma forma que a Lua Nova.
Às vezes meus sentimentos estão mais intensos e eu fico mais sensível chorando por coisas que normalmente não derramaria uma lágrima, minhas emoções ficam mais aguçadas e não existe pouco, tudo que acontece é muito, é grande como se o roteiro da minha vida tivesse sido escrito em caps lock. Eu me sinto realizada com pequenas atitudes, como lavar toda a louça, e o mais importante me sinto preenchida, como se todos os sentimentos estivessem dentro de mim só esperando o momento de serem usados, não existe frieza, não existe vazio, eu to completa igual a Lua Cheia.
Existem outros dias que só quero chorar e nunca mais levantar da cama, dias em que a importância sobre as coisas deixa de existir, a vontade de largar tudo e todos predomina,me sinto débil, medíocre e mesmo sabendo que é só uma fase me sinto ínfima, a intensidade some como a Lua Minguante.
Na maioria dos dias não sinto uma harmonia dentro de mim, comecei a entender os bloqueios e muros que construí para me proteger, sinto que cada vez mais surgem novos obstáculos que me impedem de quebrar a parede que me separa do mundo e todo dia é uma nova batalha e a cada pequena vitória eu caminho para um lugar melhor da mesma maneira que a Lua Crescente.
Meus valores e percepções estão mudando, comecei a prestar mais atenção nos detalhes que geralmente passam despercebidos, sendo que os detalhes enganam, apaixonam e ultimamente vem contando muitas histórias. Aos poucos eu vou me tornando como o céu dessa quarentena, mais limpo, bonito, calmo e com menos ruídos… Todo dia com uma surpresa diferente e uma nova descoberta.
Eu posso estar no filme mais dramático do mundo, no qual a tempestade não acaba nunca e quando acho que acaba, vem uma nova destruindo mais e testando meus limites, mas no fim eu sei que por mais destruição que tenha tudo vai acabar bem. Parafraseando uma frase de um dos filmes mais dramáticos que já assisti “se quiser ter o arco-íris, primeiro terá que enfrentar a chuva” (A Culpa é das Estrelas), o arco-íris que vai aparecer será mais colorido, vivo e intenso que já tive em toda a minha vida.
