Lembrete
Desde pequeno sempre me interessei por tatuagens. O processo artístico, a mensagem por trás delas. Lembro que com doze anos assistia a programas de TV sobre tatuadores, e achava o máximo como eles tinham a habilidade de dar vida a ideias de uma maneira tão bonita. A partir daí meu interesse só crescia, mas não passava disso visto que eu não passava de uma criança.
Foi então com quinze anos que vi a oportunidade bem ali na minha frente: meu pai de repente perguntou “Lucas, por que você não faz uma tatuagem?”. Fiquei muito surpreso, até porque o via como o empecilho para que as fizesse. Mas a vida nos surpreende, e não perdi tempo — já marquei a minha primeira sessão.
Fui no dia com a minha melhor amiga ao estúdio para tatuar uma frase que desde que li pela primeira vez, me marcou. “The mind is everything: what you think, you become”. Para mim, faz total sentido e serve de lembrete para o resto da minha vida; de que não há nada que nos impeça de fazer o que desejamos a não ser nós mesmos, e basta começar. A sessão começou e as palavras repousaram em minha costela causando uma dor única, mas que passa assim que o tatuador termina seu traço final, e num intervalo de uma hora minha pele virou arte.
Lembro até hoje de como me senti feliz ao fazer a minha primeira tatuagem e também por ser o primeiro da minha turma de amigos a fazer isso (todos ficaram chocados, e hoje em dia cada um aparece com uma nova a todo momento!). Pode parecer clichê, mas senti como se tivesse decorado meu corpo e o tornado mais interessante, e mais a minha cara. A partir daí fiz uma tatuagem diferente a cada ano, que hoje totalizam quatro… por enquanto.
Pessoalmente, vejo minhas tatuagens como um reflexo de quem sou, e quem venho me tornando ao longo do tempo. Seja uma frase que me toca, seja um símbolo tatuado em comum com a minha melhor amiga (a mesma que me acompanhou na minha primeira sessão), todas elas carregam uma fração de quem eu sou e materializam minha personalidade. Ao contrário do que muitos acham, não penso que irei me arrepender delas no futuro. Muito provavelmente olharei para todas, já desgastadas com o tempo, e me lembrarei de como esse tempo foi bem vivido.
Sendo assim, a cada vez que me deito para rabiscar meu corpo novamente passo por uma experiência diferente, e ao mesmo tempo comum. De modo poético, uma dor momentânea traz à tona algo belo, que espanta por sua perpetuidade e também me acalma justamente por isso. Estarei para sempre marcado por minha própria história, por minha própria essência, por mim. E é uma sensação única, de ter essa liberdade sobre nosso corpo, e transforma-lo numa tela do que quer que desejamos pintar.