Letargia
Cheguei a pensar que nunca mais sentiria qualquer coisa que não um tipo de tédio, uma falta de vontade de tudo. Até ser atingida por um turbilhão de emoções e desejar que elas sumissem.
Não há nada pior que a sensação de vazio. Você respira, come, dorme, vive uma vida completamente normal. Mas, dentro, há um certo desespero por ter a impressão de que alguma coisa está errada. Não conseguir identificar exatamente o quê, nem o porquê, muito menos encontrar soluções, é o que tira a pessoa do sério. Causa uma ansiedade profunda. Só que essa ansiedade se camufla, se mascara, se esconde… E prende. Impede a pessoa de fazer o que gosta, o que ama, até mesmo lhe tira a capacidade de identificar essas coisas. Perde-se o verdadeiro eu.
Quando o turbilhão de emoções contidas finalmente me atingiu, ela veio à tona. A maldita ansiedade saiu da casinha e destruiu tudo o que eu tinha construído. Minhas conquistas relacionadas a autoestima, aceitação. Todo o crescimento pessoal ruiu. Agora, enquanto escrevo, percebo a verdade: os problemas varridos para debaixo do tapete, com os quais eu não queria lidar — não superei ou conquistei nada, eu me escondi por não suportar viver comigo mesma.
¿Obrigada, talvez?! É.. é isso, talvez eu deva agradecer a esse período de crise… “Valeu, migo, já pode ir embora, tá?”.
Perdi e ganhei muitas coisas durante esse processo. Perdi amigos, ganhei amigos; perdi amores e ganhei novos; me perdi. Não sei ao certo se já ganhei um novo eu. Tenho a sensação de ser impossível reencontrar o antigo, perdi partes irrecuperáveis dele pelo caminho. Mas só o fato de voltar a sentir a perda e me satisfazer com o ganho, já é um alívio.