Linhas Redondas

Ana Temin
Iandé
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3 min readApr 17, 2018

Por Ana Clara Temin Wood

Era julho de 2015. Um calor de 40 graus. Estava úmido.

Eu acabará de pousar no JFK, em Nova York, estava pela primeira vez viajando sozinha. Com uma mala que tinha o dobro do meu tamanho, eu perambulava pelos corredores do aeroporto tentando encontrar o grupo que me levaria ao meu destino final: a Universidade de Yale, em New Haven, Connecticut.

Enfim, depois de algum tempo, avistei meu grupo e logo em seguida encontramos o translado que nos levaria a nosso destino. Depois de 3 horas, chegamos. Tudo ficou escuro.

Sai do translado. Com a minha mala de um metro e meio apoiada sobre o meu pequeno corpo, caminhava a passos curtos para dentro da universidade. Minha mão estava escorregadia, e eu suava por dentro daquele moletom quente que havia colocado para sobreviver ao ar condicionado do avião, mas ainda não havia tirado pelo fato de não querer o carregá-lo na mão.

Depois de um tempo lutando com aquela mala pesada, entrei. Olhei. Parei. Precisava retomar minha respiração para continuar andando para o meu dormitório, mas não conseguia. Sentei com a minha mala ao meu lado, no primeiro banco que achei. Comecei a observar os prédios da universidade: impressionantes. Bonitos, mas ao mesmo tempo nem tanto. Prestei atenção em cada detalhe dos prédios medievais a minha frente, e algo me afligia tanto, que resolvi levantar e seguir meu caminho.

Empurrei a porta de mármore do dormitório com dificuldade, e subi as escadas lentamente para não perder o ritmo da respiração novamente, eram 7 andares, o meu era o último. A cada lance de escada eu parava por alguns segundos para retomar a respiração. Não haviam janelas.

Após arrumar meus pertences, fui dar uma volta pelo campus da Universidade e tentar memorizar onde ficavam as salas de aula e o refeitório, para eventualmente não me perder. Entrei no primeiro prédio. No segundo. No terceiro. Aquela sensação de que algo me afligia, de novo. Fui até o meio do campus, e deitei sobre a planura de grama molhada. Fechei os olhos e respirei. A grama estava pinicando o meu corpo, mas isso já não me incomodava, pois pela primeira vez desde que chegara, eu estava respirando, oxigenando todas as células do meu corpo.

“Lunch Time!”, uma das monitoras do meu dormitório gritou. Levantei rapidamente e me dirigi ao refeitório. É difícil caracterizar a arquitetura do prédio do refeitório, mas para quem já assistiu a saga “Harry Potter”, posso dizer que o interior é de extrema semelhança com a escola de Hogwarts. A iluminação era fraca e as estruturas de mármore nas paredes e nos tetos traziam uma sensação de que o lugar não é tão espaçoso quanto parece ser. De novo a sensação de aflição tomava conta do meu corpo. Não conseguia respirar. Corri para fora do refeitório em direção ao meu espaço no extenso campo de grama, sentei. Chorei. O que me estava acontecendo? Sentia uma falta de sintonia entre a minha cabeça e o meu corpo.

O interior dos prédios era muito escuro. Tinham uma arquitetura arredondada e fechada, repleta de linhas curvas. Me davam uma sensação de que não me cabia lá dentro, de que conforme a estrutura ia diminuindo, eu ia aumentando, aumentando, aumentando… Estava tudo desencaixado.

Cada vez que eu tinha que entrar em uma sala de aula, no meu dormitório, ou ir comer no refeitório, eu suava frio. Minhas mãos e meus pés travavam, e o sangue não circulava, sentia um frio na barriga, que nunca havia sentido antes. Faltava ar dentro de mim, meu coração estava pulsando a mil, tinha a sensação que ele sairia do meu corpo. Minha visão estava turva, mal conseguia enxergar minhas próprias mãos. Meu corpo tremia e palavras não saiam. Tinha medo. Medo da possibilidade de sentir aquilo novamente.

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