Marcha da Vida

Gabriela Bigio

Gabriela Bigio
Iandé
3 min readOct 17, 2018

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Em 2014, tive a oportunidade de viajar com minha escola a marcha da vida, uma viajem que a maioria das escolas judaicas realizam para que seus alunos possam ver, de fato, o que o povo judeu passou ao longo da história. Na viajem pudemos presenciar os diversos cenários do holocausto, entre eles, os campos de concentração e extermínio, incluindo o trajeto entre os campos, onde os nazistas mais exterminaram os judeus nessa atrocidade.

Grade de arame farpado, no campo de concentração de Auschvitz

Durante essa viajem, junto com meus amigos também judeus, lembramos das atrocidades que ocorreram com o nosso povo nos campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial pelos nazistas. Posso dizer que na primeira vez que pisei em um dos campos de extermínio que visitamos a única coisa que eu podia sentir era raiva e angústia por tudo que aconteceu com os meus antepassados, que com certeza apenas quem passou por todas essas atrocidades pode dizer o quanto foi sofrido e desumano. Mas, ao mesmo tempo em que vinha essa sensação, também vinha um orgulho inexplicável pelo o meu povo, que apesar de tudo que aconteceu com eles, eles ainda mantinham fé em Dus e na religião, e não desistiram em meio a esse contexto desumano.

Nessa viajem inesquecível, tivemos a oportunidade de passar pelos três campos de extermínio mais conhecidos, entre eles, Auschvitz, Birkenau e Majdanek. Todos eles foram muito marcantes para mim, mas entre eles o que mais me impressionou foi Auschvitz, o mais conhecido por todos. Isto porque lá eu pude ver os pertences de milhões de pessoas que morreram ali, isto me chocou muito, pois a quantidade de sapatos, chapéus, malas, óculos, cabelos, brinquedos e outros pertences fizeram com que eu pudesse ver quantas vidas e historias foram deixadas para traz, em razão de um ódio dos nazistas pelo meu povo e pelas minorias na Segunda Guerra Mundial. Ali, não estavam apenas pertences deixados para trás, mas sim milhões de vidas que foram exterminadas pela injustiça e desumanização do ser humano. Nesse momento de pé, olhando para todos esses pertences apenas pude pensar em uma coisa, que entre eles, havia os pertences dos meus bisavós, que passaram por tudo isso, e conseguiram sobreviver mesmo no cenário em que estavam inseridos.

Pertences das pessoas que foram levadas para Auschvitz

Para mim, essa viajem me trouxe uma experiência inesquecível, que com certeza nada e nem ninguém poderá apagar essas memórias de mim. Mesmo com o sofrimento de ver tudo o que aconteceu com meus antepassados, voltei para o Brasil com o sentimento de que eu precisava fazer algo além do que estava fazendo pela minha religião, pois foi por meio dela que meu povo se agarrou para que pudessem sobreviver, mesmo com toda fome, sono e dor que estavam sentindo eles rezavam para Dus ajudar e tirar eles dessa situação, e não perderam a fé em nenhum momento.

Tenho muito orgulho em ser judia, e essa oportunidade fez com que eu me orgulhasse mais ainda. Essa experiência me trouxe diversos ensinamentos, entre eles, que devemos valorizar tudo o que temos e todos os dias de nossas vidas, pois vivemos os dias como se sempre existirá o amanhã, mas na verdade, não sabemos o que pode acontecer no nosso dia de amanhã

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