Mega Death

Paulo Henrique de Oliveira
Iandé
Published in
2 min readApr 24, 2019

Duas experiências estéticas me fizeram chorar este ano. A primeira, da qual vou relatar, foi uma instalação chamada Mega Death, de Tatsuo Miyajima, que fazia parte de algumas exposições minimalistas que visitei em Singapura durante uma viagem.

A instalação era composta por uma sala escura com vários dispositivos acesos nas paredes, cada um mostrava uma contagem regressiva com uma velocidade diferente. Quando a contagem de um dispositivo chegava ao fim, o dispositivo se apagava por um tempo, ao invéz de mostrar o número zero, e depois reiniciava sua contagem. Representando ciclos de vida e morte (para mim).

Mega Death por Tatsuo Miyajima. Foto: NATIONAL GALLERY SINGAPORE

Entrei na instalação e logo me encantei com a sala, olhei os dispositivos de perto e logo entendi a mensagem que transmitiam. A sala estava vazia naquele momento e os números tomavam uma dimensão cada vez mais sublime para mim. Me sentei no chão e acompanhei uma das contagens, quanto mais chegava ao fim, maior uma sensação de medo crescia. O dispositivo se apagou e logo iniciou uma nova contagem, como se a contagem anterior não tivesse a menor relevância. Observei as várias luzes que se apagavam e acendiam, vidas começando, vidas passando e vidas terminando.

Foi nesse momento que comecei a chorar, me perdi nas incontáveis vidas que via na minha frente e me colocava no lugar de cada uma. Me perguntava como a contagem da minha própria vida estaria, o medo da morte crescia de novo, com um choque de realidade de que as vidas não fazem diferença quando acabam, substituídas e esquecidas.

Percebi que aquela obra era muito impactante para mim justamente por já ter plena consciência desse fato. Foi então que comecei a chorar ainda mais, eu estava viajando completamente sozinho pela segunda vez, um orgulho extremo bateu naquele momento pelo fato de ter conseguido chegar a um momento da vida em que eu passei a ter consciência do meu tempo e passei a me cobrar a fazer tudo que tenho vontade, me permitindo aproveitar a experiência humana completamente. Mantendo minha vida relevante para mim mesmo enquanto consigo.

Lembro de ter ficado sentado no chão daquela sala e refletido sobre a existência por quase uma hora, até que minha indignação (vulgo irritação) com turistas, que entravam na sala e saiam após tirarem selfies com flash, me dispersou daquele estado contemplativo, então me levantei e fui ver o resto da exposição me sentindo renovado por dentro.

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