Memórias de um ex-usuário do Tinder

Lucas Rios
Iandé
Published in
3 min readNov 25, 2019

Eu me recordo vagamente da primeira vez que ouvi falar do Tinder. Eu devia estar entrando no ensino médio, e a premissa de um aplicativo de namoro que todos estavam usando me pareceu extremamente tentadora.

Foi assim então com os meus 14 ou 15 anos baixei o app pela primeira vez. Na época a natureza do Tinder não me pareceu estranha, porém olhando agora em perspectiva com os meus 21 anos não posso deixar de achar no mínimo peculiar.

Para os não familiarizadas, o app funciona mais ou menos da seguinte maneira. Há uma foto de uma pessoa no meio da tela. Deslizando a foto para a direita, tenho interesse. Deslizando para a esquerda, não tenho interesse. Caso ambos tenham interesse, podem então conversar. A simplicidade leva ao costume. Muitas vezes me via passando rapidamente por dezenas de fotos de garotas já que afinal, nunca havia, e provavelmente nunca iria, ver nenhuma delas na vida.

Por mais que eu ache que comparar o Tinder à um jogo seja razoável, tendo a achar mais interessante o analisá-lo da perspectiva de um catálogo, tal qual um cardápio.

Um catálogo de opções sem fim, ou melhor quase sem fim, visto que, retornando a analogia do jogo, todo jogo de celular tende a tentar lhe vender algo, ou que você seja um usuário “plus”. Com o Tinder não é diferente. O usuário tem a opção de pagar uma mensalidade que lhe garante vantagens no “jogo”, tal qual saber exatamente quem te deu um like para que o usuário nem tenha de se incomodar passando por usuários desinteressados. Agora que foi estabelecido como funciona o aplicativo, voltaremos então à minha experiência.

Devo ter baixado o app umas 5 ou 6 vezes desde a primeira vez. Foi só durante as férias de 2018 para 2019 que de fato sai com uma garota pelo aplicativo. Até então as minhas interações entre os meus “match’s” se limitavam a apenas conversas pelo aplicativo, em alguns casos trocávamos números, mas essa barreira digital nunca era ultrapassada. E parecia que havia uma certa falta de interesse, de ambas as partes no caso, de realmente levar a inteiração do app para a vida real. A procura por match’s por si só já valia como a experiência do Tinder para muitas pessoas, tanto que quando eu vinha a conversar com amigos que também faziam uso do aplicativo, raramente a pessoa em questão já havia saído com alguém. Parecia que eu era a única pessoa a sair com alguém do Tinder enquanto todos só jogavam o jogo.

Apesar de tudo, tive sucesso em quebrar essa barreira digital, e o fiz mais vezes. No total sai com 4 pessoas do Tinder, o que realmente não é muita coisa, mas como já comentei, é muito mais do que qualquer um com quem já vim a conversar. Tenho de admitir que o meu primeiro encontro do Tinder foi realmente meio constrangedor, afinal nunca na minha vida havia visto a garota e nossa maior ligação era que ambos estávamos no mínimo dispostos a ficar um com o outro, porém no final não mudava muito de um encontro convencional.

Após um primeiro encontro bem sucedido eu possuía provas de que, por mais que para minha surpresa, o Tinder funcionava. A questão agora que eu me perguntava era a seguinte: “o que quero com tudo isso?”. E isso seria algo que eu teria uma certa dificuldade em responder. Continuei então a usar o aplicativo.

Meu segundo encontro não teve muita relevância, foi ao mesmo tempo meio esquisito e profundamente desinteressante, porém continuei a usar o aplicativo. Já o meu terceiro encontro foi diferente, porque foi então que conheci uma garota chamada Letícia, que hoje é minha namorada. O meu quarto encontro, diga-se de passagem, ocorreu em meio a um término da minha relação com a Letícia, mas ele foi em geral meio esquisito e profundamente desinteressante.

Recapitulando. eu fui de alguém que usava o Tinder em rolê pra passar o tempo, para alguém que arranjou uma namorada no Tinder. E o engraçado é que eu muito provavelmente nunca teria conhecido a minha namorada se não fosse pelo Tinder, visto que moramos mais ou menos a 19km de distância.

Hoje eu não tenho mais o app, logicamente. Mas eu acho cômico a forma como o Tinder mudou a minha vida em um espaço de tempo relativamente curto. Então se eu saio desta experiência com alguma reflexão, seria que o Tinder funciona mesmo.

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