Minha Cabeça Me Cansa

Inveja Sem Fim

Mariana Mota Botelho
Iandé
2 min readMay 19, 2022

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Por Mariana Botelho

Eu não diria que minha vida é particularmente difícil, mas minha cabeça é.

Tudo ao meu redor me irrita. Ter que conviver com gente me tira do sério. Toda hora precisar adivinhar o que os outros estão sentindo ou querendo dizer drena minhas energias. Constantemente ficar completamente consciente sobre o fato da minha roupa estar me tocando é um inferno. Além de ser obrigada a escutar os barulhos da cidade, ainda ser forçada a escutar as vozes dos meus amigos sem poder surtar é insuportável.

Minha cabeça sempre acha um detalhe que não consegue processar.

Porém, isso não significa que eu posso sempre descontar meus problemas em todo mundo, nem me dar ao direito de assumir o meu real transtorno. Eu tento me controlar. Disfarço meu incômodo. Finjo que sei ler entrelinhas comunicacionais. Não me permito desfocar, muito menos deixar de me esforçar. Mas… a vida me parece um pouco injusta.

Por que EU não tenho o direito de relaxar?

Desde que entrei na faculdade até hoje me deparo com um sentimento extremamente desagradável: minha inveja. Apesar de muitas pessoas ao meu lado também terem TDAH, por que eu sou a única obrigada a não deixar transparecer? Meus amigos podem ser desatentos e agitados. Eles têm o direito de não conseguir concluir um trabalho e errar a escrita por falta de atenção. Meus colegas recebem permissão para não se esforçarem muito mais do que os outros para alcançarem o nível de neurotípicos.

Já eu, não.

Além de TDAH, também fui diagnosticada com TEA. Não sou a favorita de Deus. Só que… mesmo assim… por que eu não posso só viver a vida do meu jeito? Sou obrigada a me esforçar vinte vezes mais do que qualquer um só para conseguir ler um texto. Não posso em momento algum deixar de prestar atenção em qualquer parte dos trabalhos. Sou proibida de demonstrar meu eterno cansaço, gerado pela minha inútil tentativa de entender o que se passa na cabeça dos outros. Tudo para não ser considerada estranha, egocêntrica e mau-caráter.

Meus amigos podem, eu não. Minha cabeça não deixa.

Várias vezes fico com raiva e penso sobre como eles deviam ser mais como eu. Deviam ultrapassar os próprios limites, deixando a mente e o corpo sempre à beira de um colapso. Contudo, analisando bem, acho que meus amigos são o lado certo dessa história. Talvez eu que devesse parar de me desrespeitar só para negar as partes de mim que não são “normais”.

Photo by Lacie Slezak on Unsplash

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Iandé
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Published in Iandé

Experiência Estética: A expressão de uma experiência vivida. Criações dos alunos da disciplina Estética ministrada pela professora Edilamar Galvão no 3o semestre dos cursos de Cinema, Cinema de Animação, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio e TV e Relações Públicas da FAAP